Prefeitura de São Paulo informou que interditou e iniciou a limpeza de um terreno de 2.500 metros quadrados aterrado ilegalmente às margens do Rio Tietê na região. Jardim Pantana, na Zona Leste de SP, amanhece embaixo d’água pelo 2° dia consecutivo
O distrito do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, amanheceu embaixo d’água pelo segundo dia consecutivo neste domingo (2). Carros e ônibus não conseguem passar por algumas ruas do bairro, e a água invadiu as residências.
Localizado na chamada “área de várzea do rio Tietê”, o Jardim Pantanal foi o mais prejudicado com a cheia do rio, que transbordou na madrugada de sexta-feira (31). O caos provocado pelas enchentes não é novidade e castiga a região desde os anos 80.
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À GloboNews, a dona de casa Tereza Gomes, que mora na região há 30 anos, contou que está com medo de sair de casa e de possíveis novas enchentes.
“Nunca aconteceu de estar desse jeito, eu espero uma alternativa que resolva, melhore para gente. Todos nós aqui lutamos pelo melhor e quando nós votamos, a gente pensa nisso. Ter a recompensa. Então, eu espero que [o poder público] faça alguma coisa para nós”, desabafou Tereza.
Ruas do Jardim Pantanal, na Zona Leste de SP, estão alagadas pelo 2° dia consecutivo
Reprodução/GloboNews
O operador de máquina Wanderson Gonçalves da Costa também relatou que não consegue entrar em sua residência há três dias por conta da água.
“Na verdade, eu nem sei como está lá. Eu vim hoje para dar uma olhada, mas não vou conseguir entrar com o meu carro. A chuva nem foi tão forte assim, já encheu tudo e demora a baixar. Geralmente quando acontecia, baixava rápido. E já vai para dois dias que a água não baixa. Está tudo mundo vivendo essa situação. Muita gente perdeu seus móveis, perderam até casa”, contou Wanderson.
A chuva voltou a atingir a capital paulista na noite deste sábado (1º) e todas as regiões da cidade entraram em estado de atenção e alerta para alagamentos às 19h36, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da prefeitura.
Na Vila Prudente, uma das regiões mais afetadas pela chuva, um motorista de aplicativo morreu afogado após ficar preso em seu carro durante um alagamento. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), ele tentou passar por uma rua alagada, o que provocou uma pane no veículo.
Famílias enfrentam enchete no Jardim Pantanal, na Zona Leste de SP
Reprodução/GloboNews
Na manhã deste domingo, a Prefeitura de São Paulo informou que interditou e iniciou a limpeza de um terreno de 2.500 metros quadrados aterrado ilegalmente às margens do Rio Tietê na região do Jardim Pantanal.
A gestão municipal ainda alegou que o rio havia sido coberto por caminhões de terra, o que contribuiu para o alagamento de ruas do bairro durante as fortes chuvas entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado. Os trabalhos de desobstrução do rio também foram iniciados.
“Pantanal é um problema terrível, né? Está em um nível mais baixo e lá já foi removido. Quando o Kassab foi prefeito, já foi feita a remoção de todas aquelas famílias de lá e voltaram de novo. Eu estou fazendo um pôlder lá. Tem uma obra que a gente estava orçando para gente fazer um dique e que fica mais de um R$ 1 bilhão. Não justifica”, disse o prefeito Ricardo Nunes (MDB) no sábado em coletiva de imprensa.
“A gente ia fazer em conjunto [com Tarcísio de Freitas], mas você veja: uma obra que vai custar R$ 1 bilhão não vale a pena porque vai ficar muito caro. Se você pegar o número de casas que tem lá e dividir por R$ 1 bilhão de reais, vai ser mais fácil tirar as pessoas. Já estou com uma obra de um dique lá sendo realizada. Hoje a situação é grave, mas está menos grave do que já foi no passado. Aquelas pessoas vão ter que sair dali, não tem jeito. Vai ser isso, está abaixo do nível do rio”, complementou.
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Jardim Pantanal
O Jardim Pantanal é uma área de várzea que se estende por nove bairros ao longo da Zona Leste de São Paulo, divisa com a cidade de Guarulhos. Localizada na beira do Rio Tietê, a área é onde justamente o rio corre devagar e faz curvas.
A região deveria ser uma Área de Proteção Ambiental (APA), em que são proibidas construções de casas e ruas. Mas a ocupação irregular e desordenada da cidade transformou a região em um bairro de muitas famílias e comunidades.
Os primeiros moradores chegaram à área ainda na década de 80. Nos anos 2000, a situação se agravou com o aumento da ocupação irregular da região.
E basta chover pouco para a água ocupar as ruas. Sem conseguir retirar os moradores do local, o poder público começou a levar infraestrutura para as margens do rio e construiu conjuntos habitacionais, escolas e piscinões ao longo das últimas décadas.
Série mostra as transformações no Jardim Pantanal, bairro que ficou conhecido pelas enchentes
Em uma grande enchente, no ano de 2009, o bairro ficou alagado por mais de 20 dias. A situação foi registrada pela TV Globo na época.
Em 2020, o então governador João Doria, ex-PSDB, entregou uma espécie de barreira para tentar segurar as enchentes.
Já o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB) disse no ano passado que R$ 400 milhões serão investidos em obras, entre elas de drenagem para prevenir cheias na região.
Na nossa série de reportagens sobre o Jardim Pantanal, vamos mostrar a luta de lideranças comunitárias pra melhorar as condições de vida extremamente difíceis
Pôlder atrasado
Uma das melhorias da atual administração foi a construção de um pôlder na confluência das ruas Serra do Grão Mogol e Tite de Lemos, com a intenção de contribuir para a melhoria das condições de drenagem do local e no entorno.
O reservatório no valor de R$ 6 milhões amorteceria as cheias e a água captada pelas redes de drenagem será depois encaminhada para o Córrego Lageado.
Porém, a obra que começou em janeiro de 2023 deveria ter ficado pronta em 150 dias, segundo o site da própria prefeitura. Mas até o momento, não ficou pronta.
O g1 procurou a prefeitura de SP para entender o motivo do atraso, mas até o momento não obteve retorno.
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