Médica que teve 80% do corpo queimado relembra explosão em condomínio em Campos do Jordão


Renata Fontoura foi resgatada em situação delicada, ficou quase cinco meses internada e recebeu alta no dia 15 de setembro. Médica vítima de explosão em prédio aproveitava feriado com namorado em Campos do Jordão
Arquivo Pessoal
Cinco meses após a explosão do prédio que destruiu ao menos 10 apartamentos em Campos do Jordão (SP), a médica Renata Fontoura – vítima resgatada em estado de saúde mais delicado do acidente – tem reiniciado a vida após passar os últimos cinco meses internada, se recuperando das lesões.
▶️ Renata é uma das quatro vítimas da explosão, que aconteceu no condomínio Saint Ettiene, no dia 22 de abril deste ano. A tragédia, que destruiu 10 apartamentos, aconteceu no feriado de Tiradentes, quando a cidade recebia milhares de turistas.
A jovem de apenas 24 anos teve 80% do corpo queimado na explosão. A situação delicada fez com que ela ficasse 144 dias internada em São Paulo, principalmente no hospital Nove de Julho, de onde recebeu alta na última semana.
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Em entrevista concedida ao g1 nesta terça-feira (19), Renata – que se lembra bem da explosão – disse ser extremamente grata por ter sobrevivido, mas lamenta o acidente, que aconteceu quando a jovem vivia a melhor fase de sua vida.
“Era o momento mais feliz da minha vida. Eu tinha acabado de me formar, tinha conseguido um bom emprego em São Paulo, tinha conhecido o meu namorado, e ia começar a especialização.”
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Polícia Científica faz perícia em prédio onde houve explosão em Campos do Jordão
Laurene Santos/TV Vanguarda
A explosão
Renata Fontoura visitava Campos do Jordão pela primeira vez. Ela conta que sempre teve vontade de conhecer a cidade e topou o passeio depois de um convite do namorado, que também é médico. Eles estavam acompanhados de um casal de amigos, que ficou hospedado em outro condomínio.
No dia do acidente (22 de abril), um sábado, a médica e o namorado conheceram o Horto Florestal e, depois do passeio, voltaram para casa para jantar e descansar, antes de sair para aproveitar a noite na cidade.
Enquanto o namorado dormia, a jovem decidiu fazer um risoto para a janta. A preparação da refeição foi a última coisa que aconteceu antes da explosão.
“Coloquei os ingredientes na panela, posicionei no fogão elétrico e, assim que liguei ele, aconteceu a explosão. Foi instantâneo”, conta.
Condomínio destruído após explosão em Campos do Jordão, SP
Douglass Fagundes
A perícia realizada pela Polícia Civil no local constatou que o acidente foi provocado pela liberação de gás no apartamento, que fica no primeiro andar do prédio, seguido de uma faísca elétrica – leia mais detalhes abaixo.
“Foi rápido e muito forte. Meu corpo foi arremessado e fiquei no meio dos escombros. Vi meu corpo pegando fogo e pensei que fosse morrer. Rezei muito. E tive muita sorte porque caí em cima do carro do meu namorado, que estava embaixo do apartamento. Meu corpo em chamas e o combustível do carro poderiam ter causado outra explosão”, se recorda a médica.
O namorado de Renata, que também é médico, foi quem prestou os primeiros socorros. Ele não se lesionou e, logo que a explosão aconteceu, começou a procurar a companheira e ficou com ela até a chegada do resgate.
“Eu estava consciente, então gritei por ajuda e ele me achou. Lembro de tudo até chegar no hospital de Campos do Jordão. Na ambulância eu vi os ferimentos pela primeira vez e achei que fosse morrer. Sentia muita dor.”
Depois dos primeiros socorros na cidade da Serra da Mantiqueira, a jovem de 24 anos foi encaminhada ao hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, onde ficou 25 dias. Após esse período, a equipe médica constatou a necessidade da paciente receber tratamento especializado para queimadas, e ela foi levada ao hospital Nove de Julho, onde ficou mais 119 dias, totalizando 144 de internação.
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Recuperação
A recuperação foi lenta e delicada, como costuma ser em casos de pacientes queimados. Renata teve 80% do corpo queimado e apenas parte da região abdominal e parte da região das coxas não tiveram queimaduras.
“Eu acordei 65 dias depois do acidente e foi um choque total quando soube disso. Fiquei muito preocupada com a especialização, principalmente. Mas continuava sentindo muita dor também.”
Explosão destruiu 10 dos 32 apartamentos em prédio
Arquivo Pessoal
Apesar da delicadeza do quadro – a paciente chegou a correr risco de vida – o tratamento foi considerado ótimo e ela não teve nenhuma sequela funcional, apenas estética, que também já está sendo tratado. A ideia é melhorar o aspecto das cicatrizes.
“A recuperação é muito lenta, dolorosa, mas eu sou muito grata por estar viva. Fui muito bem tratada e a minha família também foi muito Foi um período muito crítico, mas não tenho do que reclamar”, pontua.
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Retomada da vida
Liberada pelo médico a retomar a especialização em dermatologia a partir do começo do ano que vem, a médica diz estar recalculando a rota. A ideia, inclusive, é frequentar as aulas, de forma remota, ainda nesse ano.
“Eu sempre quis dermatologia, desde o início da faculdade. Quando entrei para o internato (estágio na área de medicina), fui de peito aberto para analisar outras opções e mudar a especialização caso eu quisesse, mas só confirmei que quero dermatologia mesmo. É o meu sonho e quero muito retomar isso o quanto antes.”
Médica vítima de explosão em prédio aproveitava feriado com namorado em Campos do Jordão
Arquivo Pessoal
Apesar da gratidão por ter sobrevivido e por estar conseguindo dar os primeiros passos na retomada da vida após a explosão, Renata Fontoura lamenta o fato do acidente ter acontecido quando ela vivia a melhor fase da vida.
“Eu acho que a vida é feita de propósitos. Não sei qual foi (o propósito) para isso ter acontecido, mas aceitei. Aprendi que sou muito mais forte do que eu imaginava. Sou muito grata por estar viva, mas não sei se um dia vou conseguir dizer que valeu a pena passar por isso. Fico pensando o que eu poderia fazer de diferente para isso não tivesse acontecido”, conclui.
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O que aconteceu?
A explosão aconteceu por volta das 20h do dia 22 de abril, no condomínio Saint Ettiene, que fica na Rua dos Manacás, no Morro do Elefante. 10 dos 32 apartamentos do imóvel ficaram destruídos e quatro pessoas ficaram feridas.
Turistas relataram ao g1 que os vidros de imóveis próximos tremeram e houve um forte barulho. Carros ficaram sob escombros e destroços foram lançados à distância.
Condomínio destruído após explosão em Campos do Jordão, SP
Douglass Fagundes
O que provocou a explosão?
Laudo realizado pela perícia da Polícia Civil apontou que a explosão no condomínio foi provocada pela liberação de gás em um apartamento do primeiro andar do prédio seguido de uma faísca elétrica.
De acordo com o laudo, a explosão aconteceu entre a sala e a cozinha do apartamento 109 e foi causada por uma “liberação de gás GLP pelo terminal de conexão do ponto destinado a lareira”.
Ainda segundo a conclusão da perícia, o registro do terminal estava aberto e, com isso, houve um grande acúmulo de gás no local, muito superior ao dos outros apartamentos, que estavam com o registro fechado. Na sequência, uma faísca elétrica causou a explosão.
Condomínio destruído após explosão em Campos do Jordão, SP
Douglass Fagundes
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