Dhiego da Silva, de Araçatuba (SP), encontrou na terapia a ajuda que precisava para controlar a ansiedade. Criada há mais de 10 anos, a campanha Janeiro Branco estimula a sociedade a debater abordagens terapêuticas ainda vistas como tabu. Dhiego Silva junto com sua esposa, Laila Lima, e sua filha, Yasmin Silva
Arquivo pessoal
Uma crise repentina de ansiedade acendeu um alerta sobre a saúde mental do motorista carreteiro Dhiego da Silva, de 37 anos. O morador de Araçatuba (SP), que antes acreditava que terapia era algo desnecessário, mudou de opinião quando percebeu que passava por um momento delicado e decidiu buscar o apoio de um profissional especializado.
📲 Participe do canal do g1 Rio Preto e Araçatuba no WhatsApp
No mês em que é realizada a campanha Janeiro Branco, responsável por conscientizar as pessoas quanto aos cuidados com a saúde mental e emocional, Dhiego contou ao g1 que os primeiros sinais de que algo não estava bem foram formigação nos braços e lábios, pressão muito alta e sensação de infarto.
“Foi quando fui ao cardiologista e fui diagnosticado com ansiedade”, conta. Mesmo com sua esposa sendo psicóloga, ele ainda não acreditava que a terapia seria útil, mas decidiu, finalmente, tentar: “Fui procurar um terapeuta, já com a cabeça mais aberta, e foi aí que comecei a ver a mudança”.
“Antigamente, eu tinha a visão de que terapia era coisa de ‘doido’. Achava que era frescura, que não precisava, que era falta de Deus, um vazio que a pessoa tinha”, relembra.
Com o passar do tempo, no entanto, Dhiego foi ganhando confiança e começou a identificar melhor suas emoções, o que foi fundamental para o seu bem-estar. O motorista carreteiro também notou mudanças significativas em sua saúde mental, que impactaram positivamente sua vida, tanto profissional quanto pessoal.
“Eu comecei a controlar minha pressão só com a terapia, com sessões regulares. Vi que era necessário me expor, falar sobre os traumas, para ter um resultado diferente”, afirma.
Ao longo do processo terapêutico, Dhiego encontrou desafios, especialmente ao precisar falar sobre seu passado: “Um dos maiores desafios foi falar sobre minha vida, sobre meus sentimentos, sobre o meu passado. Eu sou bem reservado”, confessa.
No entanto, ao longo das sessões, ele começou a perceber os benefícios da terapia, especialmente com a aplicação de testes que o ajudaram a entender melhor a si mesmo. “O teste de personalidade descreveu minha vida sem eu falar nada. Isso me fez confiar na terapia”, revela.
“A terapia me ajudou a entender os gatilhos da ansiedade e a lidar melhor com meus sentimentos. A grande diferença foi encontrar o equilíbrio emocional”, conclui.
Janeiro é conhecido como o mês da conscientização da saúde mental e emocional
Divulgação
Terapia como autoconhecimento
A história de Dhiego reflete a importância de desmistificar a terapia e quebrar os estigmas que ainda existem em torno da saúde mental. Para a psicóloga clínica Paola Antoniole dos Santos, de 24 anos, ainda há muito a ser feito para mudar a percepção das pessoas sobre os cuidados psicológicos.
“Acredito que existem muitos tabus, muitas vezes por falta de compreensão ou questões culturais. A maioria das pessoas é ensinada a cuidar da saúde física, mas não aprende a importância de cuidar das emoções”, explica.
Segundo Paola, é comum ouvir frases como “terapia é coisa de ‘louco'” ou “terapia é para quem é fraco”, o que dificulta o acesso das pessoas a esse tipo de cuidado.
“Se as escolas tivessem um trabalho voltado para a psicoeducação, as crianças cresceriam com a visão de que a terapia é algo importante, o que resultaria em adultos mais dispostos a procurar ajuda quando necessário”, sugere.
Ela ainda ressalta que a terapia pode ser uma ferramenta de autoconhecimento, por meio da qual as pessoas aprendem a compreender seus pensamentos, emoções e comportamentos, além de desenvolver estratégias para lidar com o estresse e melhorar a qualidade de vida.
Paola Antoniole, psicóloga clínica que atua em Araçatuba (SP)
Arquivo pessoal
Paola acredita que a pandemia, com o aumento do estresse e da ansiedade, foi um fator de conscientização para muitas pessoas.
“Com o isolamento social, as pessoas começaram a perceber mais os sintomas de ansiedade, o medo do futuro e o aumento da tristeza. As campanhas de saúde mental nas redes sociais ajudaram a desconstruir alguns estigmas sobre a psicoterapia”, observa.
Para ela, o Janeiro Branco é uma oportunidade de promover a saúde mental de maneira preventiva:
“Assim como tomamos vacinas para prevenir doenças físicas, podemos adotar hábitos diários que previnem o declínio da saúde mental, como momentos de lazer, atividades físicas, meditação, e procurar ajuda profissional.”
A psicóloga também defende que a terapia não deve ser vista apenas como uma medida corretiva para crises, mas, sim, como uma forma de manutenção do bem-estar emocional: “Muitas pessoas ainda buscam ajuda apenas quando estão em crise, mas a psicoterapia pode ser preventiva, ajudando na construção de uma base emocional sólida para lidar com os desafios da vida.”
A campanha
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% das pessoas que vivem com condições de saúde mental estão sem nenhum tipo de tratamento qualificado para o cuidado. Para alertar sobre a importância do cuidado com a saúde mental, a campanha Janeiro Branco foi criada e regulamentada no Brasil.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2014, a campanha foi idealizada pelo psicólogo e palestrante Leonardo Abrahão, na cidade de Uberlândia (MG). Em 25 de abril de 2023, a campanha virou lei federal (14.556/2023). Neste ano, o lema é: “O que fazer pela saúde mental agora e sempre?”.
Seu propósito é sensibilizar indivíduos e instituições sobre a importância de construir uma cultura da saúde mental em todas as relações humanas.
Mudanças no humor, dificuldade de lidar com as emoções e alterações no apetite ou sono são sintomas de sofrimento psíquico
Canva
Caminhos do atendimento
Mudanças significativas no humor, dificuldade de lidar com as emoções, mudanças de comportamento e alterações no apetite ou sono podem ser alguns dos sintomas apresentados no início do sofrimento psíquico, segundo a psicóloga Paola Antoniole.
Para conseguir o acolhimento e o tratamento necessários, é possível procurar alguns caminhos dentro do Sistema Único de Saúde (SUS):
Unidade Básica de Saúde (UBS): é a porta de entrada para todos os casos e acolhe casos leves e moderados;
Centro de Atenção Psicossocial (Caps): destinado ao atendimento de pessoas com sofrimento mental grave, seja em situações de crise ou em processos de reabilitação psicossocial. Funciona em regime de porta aberta, sem necessidade de agendamento prévio ou encaminhamento para ser acolhido no serviço;
Pronto-socorro: atende principalmente emergências.
O atendimento no Caps é feito por demanda espontânea – comparecimento ao local – ou também por encaminhamento de outras unidades de saúde. Para ser atendido, é preciso apresentar um documento oficial de identificação com foto e o Cartão Nacional do SUS (Cartão SUS).
Em caso de necessidade de apoio psicológico, procure a unidade abaixo mais próxima:
São José do Rio Preto (SP):
CAPS AD NORTE – Rua Joaquim Rosa dos Santos, 851 – Vila Clementina;
CAPS II CENTRO – Av. Philadelpho Manoel Gouveia Neto, 805 – Vila Novaes;
CAPS BOM JARDIM – Rua José Polachini Sobrinho, 575 – Vila Sinibaldi;
CAPS ADULTO SUL – Rua José Polachini Sobrinho, 575, Vila Sinibaldi;
CAPS INFANTIL SUL – Rua Francisco Giglioti, 344 – Vila Sao Manoel;
CAPS INFANTIL CENTRO – Rua Siqueira Campos, 3718 – Vila Santa Cruz;
Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas 24H – Rua Voluntários da Pátria, 5 – Eng. Schmitt;
Centro de Atenção Psicossocial Adulto Álcool e Drogas – Rua Joaquim Rosa dos Santos, 851 – Vila Clementina;
CAPS Infantil Norte – Rua Manoel Francisco Raposeiro, 200 – Terreo – Conj. Hab. Duas Vendas.
Araçatuba (SP):
CAPS AD III – Rua Bastos Cordeiro, 1051 – Santana;
CAPS INFANTOJUVENIL – Rua Silvio Russo, 263 – Água Branca I;
CAPS III ADULTO – Rua Custódio Soares de Castro, 360 – Morada dos Nobres;
SRT Casa do Beija Flor – Av. João Arruda Brasil, 1660, São Joaquim;
SRT Casa das Violetas – Rua Ana Nery, 664, Ipanema.
*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku
Veja mais notícias da região no g1 Rio Preto e Araçatuba
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM