Pesca, aquariofilia e artesanato: os trágicos destinos de cavalos-marinhos brasileiros


Espécies que ocorrem no país também enfrentam a degradação de seus habitats. Cavalo-marinho-do-focinho-longo (Hippocampus reidi) registrado nas Ilhas Cayman
Dan Schofield / iNaturalist
Mesmo sendo especialistas em camuflagem, a maioria das espécies de cavalos-marinhos está ameaçada de extinção em diferentes níveis, segundo a lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
No Brasil, o cavalo-marinho-do-focinho-longo (Hippocampus reidi), o cavalo-marinho-do-focinho-curto (Hippocampus erectus) e o cavalo-marinho-patagônico (Hippocampus patagonicus) também estão inclusas nessa triste estatística. Somente essas três espécies ocorrem por aqui.
De acordo com informações do Projeto Cavalos-Marinhos do Rio de Janeiro, esses peixes são principalmente ameaçados pela destruição de habitats e pela pesca feita com rede-de-arrasto, que visa principalmente à captura do camarão.
“Os cavalos-marinhos são capturados como fauna acompanhante e são vendidos secos para uso na medicina tradicional, principalmente na Ásia, ou para confecção de souvenirs e artesanatos, como esculturas, chaveiros e bijuterias”, informa o site do projeto.
Cavalo-marinho-patagônico (Hippocampus patagonicus)
Diego Luzzatto / Project Seahorse
Eles também são capturados de forma intencional e vendidos vivos para o comércio de aquariofilia (criação em aquários), no qual muitos animais morrem por falta de cuidado adequado, seja no percurso ou por manejo incorreto.
Frente a essas ameaças, todas as espécies foram incluídas na Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES), implementada em 2004 e da qual o Brasil é signatário.
No país, as Portarias 445/2014 e 148/2022 do Ministério do Meio Ambiente proíbem a captura, transporte, armazenamento, guarda, manejo, beneficiamento e comercialização desses animais.
Peixe extraordinário
Parte do grupo dos peixes ósseos, os cavalos-marinhos chamam atenção pelo corpo verticalmente direcionado, o focinho tubular, a cauda preênsil e a presença de anéis ósseos que criam o efeito de “armadura” no peixe.
Mestres da camuflagem, muitas espécies desenvolveram padrões de coloração e manchas que dificultam sua localização no ambiente. A superfície de seu corpo também pode ser colonizada por pequenos organismos como algas e briozoários, tornando-os mais parecidos com seu meio.
Além disso, conseguem desenvolver prolongamentos na pele, imitando filamentos de algas e outros organismos em que se prendem. Para evitar a predação por caranguejos, polvos e até aves marinhas, eles ainda são capazes de mudar de cor para se misturar ao ambiente.
Cavalo-marinho-do-focinho-curto ou cavalo-marinho-raiado (Hippocampus erectus)
Pauline Walsh Jacobson / iNaturalist
Representados por pouco mais de 40 espécies, todas do gênero Hippocampus, os cavalos-marinhos são encontrados em mares rasos, tropicais e temperados em todo o mundo. Vivem em áreas protegidas, como bancos de algas marinhas, estuários, recifes de coral e manguezais.
“O focinho longo é uma adaptação para sugar alimentos, que incluem microcrustáceos em sua maioria. É como se ele fosse um mini aspirador de pó, só que ao invés de pó, os cavalos marinhos aspiram camarões pequenininhos”, comentam os biólogos e divulgadores científicos do canal Zoomundo Amanda Gomes e Bruno Augusta.
Além disso, o peixe não possui estômago e, por isso, precisa estar constantemente comendo para sobreviver. Outra curiosidade sobre esse grupo é que seus olhos se mexem de forma independente, assim como os do camaleão.
Na reprodução, uma característica muito disseminada sobre os cavalos-marinhos é a incubação dos ovos ser feita pelo macho ao invés da fêmea. Após depositar os ovócitos na bolsa do macho, este os incuba por algumas semanas até o nascimento dos filhotes, que podem chegar até 1 mil por ninhada.
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