Pescadores denunciam pesca irregular no Açude de Boqueirão durante a piracema


Período do defeso na Paraíba vai até 28 de fevereiro e pescadores locais reclamam de pescas irregulares durante o período. Pescadores denunciam pesca irregular no Açude de Boqueirão durante a piracema
Reprodução/TV Paraíba
Moradores e pescadores de Boqueirão, no Agreste paraibano, têm denunciado a prática de pesca irregular no Açude Epitácio Pessoa, também conhecido como Açude de Boqueirão, durante o período de piracema. Segundo a denúncia dos pescadores, a falta de fiscalização tem facilitado a atividade ilegal, uma vez que os peixes, devido ao aumento do volume de água, se aproximam das margens para se alimentar.
“Muita gente pescando. Estamos esperando o Ibama chegar aqui e levar essa gente. Vamos respeitar o açude da gente, porque a gente vive disso aqui. Nós vivemos da pesca. Tem que esperar [o período do defeso passar]”, declarou o pescador José Barbosa Martins, que enfatizou a indignação da comunidade com a ausência de ações fiscalizatórias.
Léo da Pesca, presidente da Colônia de Pescadores de Boqueirão, também reforçou as queixas.
“Temos recebido muitas reclamações dos pescadores que estão parados, e eles fazem as reclamações, mas como a colônia não é um órgão fiscalizador, existem órgãos competentes que podem fazer a fiscalização desse açude, e nós clamamos por isso. Estamos no segundo mês do defeso e até então nós não obtivemos nenhum tipo de fiscalização”, disse o presidente da colônia.
Peixes durante o período da piracema no Açude de Boqueirão
Reprodução/TV Paraíba
O período do defeso na região da bacia hidrográfica na Paraíba iniciou em 1º de dezembro do ano passado e vai até 28 de fevereiro.
Durante o período do defeso, os pescadores recebem um benefício, chamado seguro-defeso, que é concedido ao pescador artesanal no período de defeso, ou seja, no período em que não pode pescar em razão da preservação das espécies de peixes, tal como a piracema.
Procurada pela produção da TV Paraíba, o Ibama informou, em nota, que já existe uma programação de fiscalizações em parceria com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) durante o período da piracema no estado. O órgão reforçou que o Açude Epitácio Pessoa é uma prioridade nas ações de fiscalização, dada sua importância como um dos maiores reservatórios da Paraíba.
O Ibama também destacou que denúncias dessa natureza podem ser feitas por meio da ouvidoria do órgão.
Vale lembrar que a pesca durante a piracema é considerada crime, com penalidades que incluem multas de até R$ 100 mil, acréscimo de R$ 20 por cada quilo de pescado irregular e reclusão de até três anos.
O que é a piracema
Canoas com pescadores no Açude de Boqueirão durante o período da piracema
Reprodução/TV Paraíba
A piracema é um fenômeno natural no qual peixes de água doce sobem o rio, nadando contra a correnteza, em busca de locais apropriados para desovar. Se trata de um período fundamental para a reprodução das espécies nativas, motivo pelo qual a pesca é proibida nessa época.
“São apenas três meses que [a pesca de peixes] fica proibida aqui na Paraíba, porque varia de região para região, e o foco é proteger as espécies nativas. Existe uma cláusula que diz que se pode pescar espécies exóticas, que não são naturais da nossa bacia, advindas de outros países ou outras bacias, mas somente com vara de linha única”, explicou a bióloga Yasmin Lustosa.
A bióloga ainda alerta para os impactos ambientais da pesca irregular durante a piracema, que pode comprometer o equilíbrio do ecossistema aquático e a qualidade da água.
“Os peixes são animais da cadeia de topo, com a função de equilibrar a cadeia alimentar dentro de um ecossistema aquático. Quando a gente retira uma espécie de peixe ou diminui a população dela, causa um desequilíbrio em toda a rede trófica. Isso afeta diretamente a qualidade da água, porque certas espécies consomem algas, e, sem elas, essas algas se proliferam, comprometendo a água”, finalizou.
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