Biólogo de Sorocaba descobre inspiração profissional por meio de ilustrações científicas: ‘Comunicar a ciência para a sociedade’


Renato Nakazone, de 27 anos, passou a enxergar as obras como uma forma de falar sobre a ciência para pessoas que possuem dificuldades ou desinteresse pelo tema. Ao g1, ele conta como é o processo de produção das ilustrações científicas. Atualmente, Renato mora na capital portuguesa
Arquivo pessoal
Quando falamos em ciência, geralmente lembramos de experimentos diferenciados e laboratórios fechados, onde os cientistas investigam, incansavelmente, as hipóteses de teorias diversas. Relacionar o assunto com a arte parece pouco provável, mas, utilizando uma famosa frase atribuída ao astrônomo Carl Sagan, “em algum lugar, alguma coisa incrível está à espera para ser descoberta”.
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Para o biólogo Renato Nakazone, de 27 anos, a “coisa incrível” veio a partir das ilustrações científicas usadas para publicações em livros e revistas acadêmicas, misturando sua profissão com seu principal hobby. Ao g1, ele conta que descobriu o termo ainda na faculdade, ajudando os amigos por meio de um esquema de estudos.
“Sempre gostei de desenhar, desde criança. Na graduação, eu sentia que os desenhos voltados à ciência ajudavam muito no meu aprendizado e, por isso, meus amigos me pediam para fazer aqueles esquemas que tinham ilustrações. Comecei a pesquisar e pensar ‘nossa, será que existe alguma forma de seguir neste meio?’. E achei um jeito”, explica.
A partir do apoio de seus professores, Renato, até então morador de Sorocaba (SP), passou a pesquisar melhor sobre o assunto e a desenvolver trabalhos do meio para a faculdade. No entanto, teve de se aventurar em outras áreas simultaneamente por se tratar de um nicho complexo.
“Fui me encaminhando cada vez mais, mas, claro, trabalhando em outras áreas também para conseguir me manter. A área é um nicho muito grande, não é nada simples. É bem difícil conseguir uma autonomia logo no começo. Depois da pandemia, descobri um curso especializado em ilustrações científicas em Portugal e fui para lá”, relembra.
Renato produz ilustrações científicas para divulgação
Arquivo pessoal
De acordo com o biólogo, as ilustrações científicas possuem um papel: divulgar a ciência para a sociedade. O processo de produção não é simples: exige muito estudo, paciência e análise milimétrica de cada parte do que será desenhado.
“Existe uma grande discussão que aborda se ilustrações científicas são arte ou não, devido à complexidade de comunicar a ciência e seus conceitos apenas com uma imagem, que pode ser algo difícil de visualizar. Mas, com certeza, eu defendo que é arte. Ela serve para apontar coisas que não são possíveis de enxergar em uma fotografia comum. Eu tento abordar de uma forma menos monótona, menos hiper-realista, mas, ainda assim, com o pé na realidade”, conta.
Na visão de Renato, uma abordagem diferente do convencional a partir da liberdade da arte é o “ponto-chave” para tornar o assunto mais atrativo e despertar interesse nas pessoas. Apesar de ser um assunto majoritariamente acadêmico, ele assumiu a missão de exportá-lo para fora do meio.
“Quando você só tem coisas muito metodológicas e difíceis de entender, mesmo com ilustração, as pessoas acabam não ficando muito interessadas. É útil para quem está na vida acadêmica, com certeza. Porém, como divulgador científico, meu papel principal não é falar de ciência só com quem já sabe e gosta, e, sim, para quem nunca parou para pensar sobre o assunto”, pontua.
Renato consegue misturar ficção científica com parte da realidade
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Na hora de “colocar a mão na massa”, o ilustrador revela que, mesmo morando em Lisboa, suas inspirações estão voltadas ao seu país de origem. No entanto, dependendo da finalidade da obra, misturar a ficção com a realidade também pode ser uma alternativa.
“A natureza em si é o meu principal foco, mas a inspiração vem da fauna e da flora brasileira. Apesar de morar em Portugal, quero sempre dar ênfase em nossa biodiversidade, que é a maior do mundo. Na última exposição que fiz, também abordei a ficção científica, já entrando no conceito do imaginário, alienígenas e futurismo, mas sempre com uma pegada orgânica e natural”, detalha.
Entre os projetos já apresentados, Renato destaca a parceria com um museu de paleontologia de Lourinhã, a 70 quilômetros de Lisboa. Nele, o artista teve a oportunidade de conhecer e reproduzir fósseis de um dinossauro encontrado na Suíça.
“Fiz minha tese do mestrado em parceria com este museu. Os fósseis de um plateossauro foram enviados de lá para o laboratório do museu, onde eles são preparados e limpos corretamente. Fiquei três meses no museu, junto do meu orientador, aprendendo sobre a ilustração paleontológica, para conseguir elaborar uma obra”, diz.
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Atualmente, o biólogo está expondo suas obras em uma galeria da capital portuguesa, onde mora há três anos. Mesmo considerando o evento uma conquista, Renato gostaria de voltar ao Brasil para expandir o conhecimento das ilustrações, considerado pouco difundido no país.
“É uma sensação muito legal, mas não seria diferente se fosse no Brasil. Estou evoluindo muito como pessoa e profissional, mas meu objetivo é voltar para mostrar tudo o que aprendi e que somos capazes, que não é preciso sair do país para conquistar algo. Querendo ou não, a ciência possui um conhecimento muito eurocêntrico, mas devemos trazê-lo para a ‘nossa galera’ e crescermos neste tópico”, destaca.
Apesar das oportunidades de conhecimento e crescimento, o ilustrador reconhece que o ramo de atuação ainda é fechado, necessitando uma versatilidade criativa para permanecer. Porém, com o atributo, é possível abrir portas para temas além da ciência aplicada.
Ilustrador acredita que seu papel é comunicar a ciência para a sociedade
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“Por ser restrito, às vezes é meio difícil conseguir um trabalho. Como a minha pegada é científica, mas também naturalista, isso acaba abrindo um leque de oportunidades maior. Vou da divulgação científica a capas de álbuns. Também já fiz ideias para marcas e camisetas, além de trabalhos clássicos”, comenta.
“Se eu me encontrasse dez anos atrás, eu não diria nada para mim mesmo. Estava começando a entender melhor sobre o conceito de arte e até sobre o meu pessoal. A forma como as coisas aconteceram não me fizeram arrepender de nada”, finaliza.
*Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida
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