Com recurso de efeito suspensivo, projeto pode operar sem alterações até que o caso seja analisado pelo Conselho Diretor da ANPD. A agência tinha determinado o fim da compensação financeira a partir do último sábado (25). Orb, dispositivo que escaneia íris, foi desenvolvido pela Tools for Humanity, criada por Sam Altman e Alex Blania
Reuters/Annegret Hilse
A World, projeto que já registrou a íris de centenas de milhares de brasileiros, recorreu da decisão do governo de suspender o pagamento das pessoas cadastradas.
Como o recurso tem efeito suspensivo, a operação poderá continuar sem mudanças até o caso ser analisado de forma definitiva, segundo a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
A ANPD tinha ordenado que o pagamento pela foto da íris fosse interrompido a partir do último sábado (25). Ela é o órgão responsável pela fiscalização do cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil.
A autoridade tomou essa decisão ao concluir que a remuneração influencia a decisão das pessoas de aderir ao projeto que, no Brasil, atua somente na cidade de São Paulo.
A íris é um tipo de “impressão digital”: é única em cada pessoa.
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A World tinha 10 dias para recorrer da decisão da ANPD, a partir de sábado, e continuou com os pagamentos na manhã e tarde de segunda (27), conforme o g1 reportou.
Procurada naquele dia, a World informou que seguia “operando legalmente” enquanto trabalhava “em parceria com a ANPD para endereçar os seus pontos”.
Na última quarta-feira (29), a World afirmou que havia recorrido da decisão da ANPD e que esse recurso suspendia, automaticamente, a ordem de parar com a compensação financeira. A agência confirmou a informação, dizendo que o recurso foi recebido na noite da segunda-feira (27).
Questionada se o fato de a World ter continuado com os pagamentos até entrar com o recurso significou um descumprimento temporário da ordem, a ANPD respondeu nesta sexta-feira (31) que isso ainda será analisado.
Essa tarefa cabe ao Conselho Diretor da ANPD, que dá a palavra final em decisões da autoridade.
A World disse que apresentou o recurso para “garantir tempo para cumprir a determinação da ANPD” e para que haja “discussões mais profundas sobre esse importante serviço”.
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Postagens sobre venda de olho ‘bombam’
A iniciativa teve uma fase de testes em São Paulo, em 2023, e retornou em novembro de 2024. De lá para cá, o número de postos aumenta a cada dia. Eram 54 nesta sexta.
Postagens sobre “venda de íris” se espalharam pelas redes sociais desde o fim do ano passado e o número de pessoas que participam do projeto saltou de 115 mil, no começo de novembro, para “mais de 400 mil” até meados de janeiro, quando esse dado parou de ser atualizado pela World.
No mundo, esse número chegou a 10 milhões, segundo divulgado em 10 de janeiro.
Até agora, São Paulo é a única brasileira a contar com os postos que fotografam a íris. Mas a Tools for Humanity, que representa a World no Brasil, disse ao g1, em 17 de janeiro, que o projeto seria estendido para outras regiões dentro de semanas.
A maioria das unidades está localizada fora do Centro expandido da capital, com muitos pontos em bairros de baixa renda, como Brasilândia e Cidade Líder, e também próximos de estações do metrô e de terminais de ônibus.
Muitos entrevistados pelo g1 desde dezembro diziam que concordaram em deixar fotografar suas íris por causa do dinheiro, e que não sabiam direito para que isso seria usado.
Quem participa recebe, em troca, 48 unidades da criptomoeda Worldcoin. As moedas podem ser convertidas em reais e equivaliam a cerca de R$ 500 na cotação desta sexta.
A ANPD investiga o projeto desde novembro. Ao ordenar a suspensão do pagamento, a agência argumentou que o modelo adotado pela World, que envolve o pagamento de criptomoedas pelo registro, influencia a decisão dos usuários, “especialmente em casos nos quais potencial vulnerabilidade e hipossuficiência tornem ainda maior o peso do pagamento oferecido”.
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