O 3º mandato de Lula já era visto, desde o seu início, como algo muito provavelmente custoso, desgastante e difícil para o líder petista. Essa probabilidade se confirmou desde o início e só se aprofunda com o tempo. Lula saiu de seu segundo mandato, em 2010, com 87% de aprovação popular e agora vê um “filme” bastante diferente.
A base desse desgaste é o Congresso atual, majoritariamente de direita. No entanto, isso é apenas parte do problema. E talvez nem seja a parte mais desafiadora. Ocorre que quem dá as cartas hoje no parlamento federal é o centrão, formado por partidos de direita, mas, acima de tudo, fisiologista e negociador ao extremo.
Em outros tempos, o atual presidente do país quase que tiraria de letra essa situação. Famoso por ser um bom negociador, o ex-sindicalista que criava e encerrava greves de grande abrangência apenas com a força de sua palavra e de sua presença, se vê às voltas, do outro lado da mesa, com negociadores que aprenderam bem esse ofício, agem em grupo e mostram ter muito apetite.
Tudo isso vem banhado numa aprovação popular do governo que só faz cair. O contraponto da vontade popular seria vital neste momento para o PT e seu líder máximo. Mas ele não vem, ou, ainda melhor, mingua. E por que isso acontece? Há um mix de razões aí.
Lula e o seu partido passam a imagem de terem parado no tempo. O Brasil que o elegeu pela primeira vez em 2002 não existe mais, porém, não parece ser essa evidência algo considerado pelos atuais titulares do poder maior do nosso país.
País atual é muito mais capilarizado quanto ao fluxo de informações. As periferias, as favelas ou comunidades, as pessoas todas na verdade, estão conectadas pelas redes sociais, cuja linguagem é própria, é peculiar, e se tornou um reduto da direita por méritos da direita, mas também por inabilidades evidentes da esquerda.
Há não muito tempo, se ventilou que setores do PT estavam incomodados com os muitos e variados “memes” envolvendo o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua voracidade em taxar a tudo e a todos, usando o episódio para defender urgente regulação das redes sociais.
Regular memes é o mesmo que tentar regular as antigas, mas sempre atuais, charges ou mesmo caricaturas. Que governante em sã consciência pode imaginar cabimento para uma normatização de algo que, por si mesmo, é instantâneo, rápido e de vida curtíssima? Pois é, isso, contudo, é um indicativo – mais um – dessa desconexão com a realidade vivida pelo governo atual.
Com a troca de comando na comunicação oficial, abriu-se espaço para uma nova estratégia, a do “Lula Onipresente”. O presidente agora fará os pronunciamentos, avisos, comunicações todas, “sem intermediários”, como ele mesmo afirmou.
Pode ser algo muito bom, afinal, velha raposa da política e conhecido por sua lábia atraente, o presidente pode comunicar melhor. Contudo, é uma faca de dois gumes e essa exposição toda pode ser perigosa para ele também. Mesmo os bons oradores sabem que o velho ditado caipira segue válido: quem fala demais, dá bom dia a cavalo.
Lula saberá usar bem essa nova estratégia? Só o tempo dirá.