No dia 20 de janeiro, a Casa Branca anunciou uma pausa de 3 meses nos programas de apoio ao desenvolvimento de outros países para avaliar a eficiência e a conformidade deles com a política externa dos Estados Unidos. O corte de verbas dos Institutos Nacionais de Saúde para pesquisas científicas já provocam impactos no Brasil
A decisão do presidente dos Estados Unidos de cortar verba dos institutos nacionais de saúde para programas de pesquisas científicas já teve reflexos no Brasil.
Quando a dona de casa Cleusa Maria Diogo descobriu que tinha doença de Chagas, três anos atrás, já era tarde. Agora, ela precisa de um transplante de coração.
“Muito cansaço, dor no corpo. Não tenho como fazer nada. É esperar mesmo”, lamenta.
A doença de Chagas é transmitida pelo barbeiro infectado com o protozoário Trypanosoma cruzi e causa arritmia e insuficiência cardíaca. Há cinco anos, uma pesquisa do Instituto de Medicina Tropical da USP, em parceria com três universidades públicas mineiras, busca facilitar o diagnóstico da doença e avaliar a eficácia do tratamento. Setenta e seis pacientes recebem acompanhamento médico em Minas, tomam a medicação e fazem exames. Os dados são analisados por pesquisadores da Universidade de São Paulo.
Já faz 13 anos que o Instituto de Medicina Tropical da USP desenvolve estudos sobre a doença de Chagas com recursos da agência de pesquisas médicas dos Estados Unidos, o National Institute of Health. Os pagamentos mensais sempre foram feitos em dia, mas só até janeiro de 2025.
No dia 20 de janeiro, a Casa Branca anunciou uma pausa de três meses nos programas de apoio ao desenvolvimento de outros países para avaliar a eficiência e a conformidade deles com a política externa dos Estados Unidos.
Cortes de verbas determinados pelo governo Donald Trump afetam pesquisas no Brasil
Jornal Nacional/ Reprodução
A professora de patologia da USP, Ester Sabino, que coordena a pesquisa, diz que o comunicado só informava que não haveria pagamento e explica por que esse tipo de pesquisa precisa ser feita em países como o Brasil.
“É um retrocesso, porque algumas doenças, os Estados Unidos não conseguem estudar lá. Eles precisam estudar em outras partes do mundo porque não existe doença de Chagas nos Estados Unidos”, diz Ester Sabino, professora do departamento de Patologia da Faculdade de Medicina USP.
A falta de financiamento preocupa os profissionais que trabalham no estudo:
“Eu tenho minhas contas para pagar, é bem difícil, complicado. Os pacientes dependem da pesquisa que é da ciência em si. Existindo esse corte de verba que veio, a gente corre o risco de ter que interromper essa pesquisa”, afirma o biólogo João Paulo Silva Nunes.
O corte já teve impacto nos pacientes em Minas Gerais.
“A suspensão do pagamento resultou em interrupção imediata dos exames no pós-tratamento. Esses exames são essenciais para detectar a resposta ao tratamento”, conta a cardiologista Maria do Carmo Pereira Nunes, professora da UFMG e pesquisadora.
“Eu tomei seis meses de medicamento – medicamento teste – e não vou saber o resultado. Torcer para que consigam reverter essa situação e a gente continue tendo esse tratamento aqui que é ímpar. Muito bom”, diz a paciente Rosimeira Silva de Oliveira.
A suspensão de verbas do governo americano também atingiu a Fiocruz. O projeto “A Hora é Agora”, que combate e previne a AIDS, ficou sem dinheiro. O coordenador da fundação, Pedro Burger, alerta que o corte afeta o mundo todo.
“A saúde depende de que todos os países do mundo estejam cuidando dela de maneira mais adequada. Quando uma região, um país tem decadência na sua preparação, na sua atenção à saúde, novos patógenos começam a circular, novas epidemias podem surgir e ameaçar a comunidade global como um todo”, afirma Pedro Burger, coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação declarou que os Estados Unidos são o principal parceiro do Brasil em pesquisas científicas e prevê um impacto significativo com a suspensão do repasse de verbas.
O Ministério da Saúde declarou que tem vários programas destinados ao combate e à prevenção da doença de chagas e que distribui medicamentos pelo SUS.
Os pesquisadores da USP estão procurando alternativas de financiamento.
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