
Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto (SP) reativou a classe escolar para oferecer aulas para crianças. Uma delas é Maria Eduarda, de três anos, que está em estado paliativo. HCM de Rio Preto implanta classe escolar para pacientes internados
O Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto (SP) reativou a classe escolar para oferecer aulas para crianças que nascem com síndromes e doenças raras e precisam de atendimento médico intensivo 24 horas por dia. Além de estimular o aprendizado, a medida pode auxiliar na progressão dos tratamentos de saúde.
Uma das pacientes internadas é Maria Eduarda, de três anos, que nasceu com uma síndrome rara no intestino e já passou por oito cirurgias, sem previsão de alta. A menina está no hospital há quase um ano.
Os andares da instituição de saúde se tornaram a casa dessas crianças. Pensando nisso, a direção reativou a sala de aula no dia 11 de março. As aulas são oferecidas às terças e quintas-feiras, das 14h às 17h. Também há atividades extras, como contação de histórias, que ocorrem às quartas e sextas-feiras, no mesmo horário.
Maria Eduarda, de três anos, começou a ir à escola dentro de hospital em Rio Preto (SP)
Jéssika Thaisa Silva Rodrigues/Arquivo pessoal
Maria foi diagnosticada aos dois meses de vida com uma doença chamada megacolon total congênito. Nesse caso, o intestino grosso não possui células e, portanto, não faz as funções necessárias. Dessa forma, é preciso colocar uma bolsa de colostomia.
No período, a pequena ficou 70 dias internada, entre a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e a enfermaria. Ela ainda chegou a ter infecção generalizada (pois o intestino foi perfurado), quatro paradas cardíacas e falência múltipla dos órgãos.
Maria Eduarda, em Rio Preto (SP), foi diagnosticada aos dois meses com uma doença chamada megacolon total congênito
Jéssika Thaisa Silva Rodrigues/Arquivo pessoal
Hoje, Maria tem 17 centímetros de intestino delgado, o que, no momento, a torna impossibilitada de viver longe das bombas de infusão. Por isso, ela recebe a alimentação pela veia, de modo que somente assim consegue absorver os nutrientes necessários.
Por isso, a mãe de Maria, Jéssika Thaisa Silva Rodrigues, não conseguiu segurar as lágrimas ao contar a história da filha. Ao g1, Jéssika revelou que precisou se mudar do interior de Minas Gerais para Rio Preto, onde Maria iniciou o tratamento.
Maria Eduarda com a mãe, Jéssika, na escola dentro do hospital em Rio Preto (SP)
Hospital da Criança e Maternidade/Divulgação
Entre as cirurgias, a mãe foi informada que a paciente está em estado paliativo, já que a doença é de alto risco e sem cura, além de a bomba de infusão ser prejudicial para os órgãos vitais. Inclusive, os rins da criança estão comprometidos, conforme Jéssika.
“O tratamento não tem prazo para acabar, é para o resto da vida dela, que vai ser curta. A única opção dela seria um transplante de intestino. Mas o Brasil não tem muito sucesso nesse caso. O tratamento custaria mais de R$ 24 milhões”, comenta a mãe.
Maria Eduarda começou a estudar dentro de hospital em Rio Preto (SP)
Francisco Braúna/TV TEM
Quando soube que a filha poderia ao menos estudar, Jéssika viveu um misto de emoções, porque sonhava com o momento de colocar o uniforme nela. Agora, Maria vai viver uma experiência que marca a infância de muitas crianças: o primeiro dia de aula.
“Ela ficou muito empolgada dizendo: ‘eu vou estudar, mamãe’. Não é porque ela é paliativa que não tem o direito de viver. É tão normal a gente arrumar o filho para a escola, comprar uma mochila e um tênis. Talvez esta sala seja o único contato que ela terá com a escola, por isso a iniciativa foi de extrema importância”, celebra.
Na visão da mãe, a ideia da sala escolar dentro do HCM vai muito além de ensinar as crianças: ela permite que os pacientes que estão há muito tempo internados e as respectivas famílias possam viver um pedaço da rotina que eles sonham em retomar quando saírem.
Para Jéssika, viver esses dias traz a dose generosa de esperança de que o futuro de Maria pode ser do jeito que toda mãe sonha. É como se ali dentro, no meio do colorido dos desenhos, elas se esquecessem por algumas horas de que estão dentro de um hospital.
“Eu espero poder levar a minha filha para casa, curada. Também espero que, aos 18 anos, ela entre para a faculdade e consiga conquistar tudo que almeja”, completa a mãe.
Maria Eduarda, de três anos, começou a ir para a escola dentro de hospital em Rio Preto (SP)
Francisco Braúna/TV TEM
Reativação da sala de aula
E são poucos passos que separam Maria de uma nova realidade cheia de descobertas e muito aprendizado. Isso porque a sala de aula fica próxima ao quarto onde a pequena está internada.
Os benefícios, de acordo com a intensivista pediátrica Patrícia Vidotti Baratto, não são apenas pedagógicos: o contato com o ambiente escolar também pode ajudar no tratamento das crianças.
“A gente acredita muito que isso auxilia na recuperação da criança, além da possibilidade de socialização. Então, a gente tem o intuito de que a criança que tenha essa internação prolongada ou institucionalizada possa também viver como se estivesse em uma vida extra-hospitalar”, ressalta a médica.
Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto (SP)
HCM/Divulgação
A diretora do HCM, Fernanda Del Campo Braojos Braga, ressaltou que esta é uma iniciativa importante. Atualmente, são duas alunas que começaram a ter aulas dentro do hospital.
“Tão importante quanto o sucesso do tratamento, as medicações e tecnologias que oferecemos é o desenvolvimento das crianças em fase de desenvolvimento cerebral, e poder oferecer isso é muito gratificante”, afirmou a diretora.
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