Projeto, que nasceu em uma esquina no bairro Pedregulho, na maior cidade do Vale Histórico, completa quatro décadas de existência em 2023. Fundador relembra momentos históricos da trajetória. Primeira casa alugada por Frei Hans e Nelson Giovanelli para acolher jovens em Guaratinguetá, SP
Arquivo Fazenda da Esperança
Gratidão. É com essa palavra que o fundador da Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá (SP), Frei Hans Stapel, descreve toda a trajetória do projeto que completa quatro décadas de existência em 2023.
Na maior cidade do Vale Histórico, em 1983, nascia, na esquina entre a Rua Tupinambás e a Rua Guaicurus, no bairro Pedregulho, o projeto que, até hoje, já ressocializou mais de 80 mil pessoas: a Fazenda da Esperança.
“Foi algo muito simples. Eu era pároco em Guaratinguetá e pais e mães desesperados, me procuravam porque os filhos estavam nas drogas. Nisso eu pensei: ‘o que posso fazer para ajudar?’ Eu os acolhi na minha casa, escutei muitas histórias e percebi que eles queriam ser ouvidos, compreendidos e amados”, relembra Hans.
Ao longo dos anos, a Fazenda, que nasceu na esquina do bairro Pedregulho, se expandiu de forma avassaladora – tudo comandado por Frei Hans e Nelson Giovanelli, que foi quem conquistou a confiança dos jovens que se drogavam no local.
Esquina da Esperança, no bairro Pedregulho, onde iniciou-se o projeto
Arquivo Fazenda da Esperança
Atualmente, o projeto conta com 167 fazendas espalhadas em todo o mundo. São espaços em todos os estados brasileiros e em 26 países diferentes.
“Nós somos uma obra da igreja, então nunca abrimos uma fazenda sem que o bispo da região esteja de acordo. Isso é um princípio nosso. Além da doação do terreno, tem que ter a bênção do bispo e o povo daquele local tem que nos acolher e participar”, revelou o pároco.
Visita de Bento XVI
Um dos momentos marcantes do projeto foi a visita do então Papa Bento XVI à Fazenda da Esperança em Guaratinguetá. A data, Hans relembra até hoje: 12 de maio de 2007.
“Eu conhecia o Papa Bento XVI quando ele ainda era cardeal. Depois, quando ele se tornou pontífice e anunciou que visitaria o Brasil e o Santuário Nacional de Aparecida, eu pensei que seria uma chance de recebê-lo”, conta.
Papa Bento XVI durante visita na fazenda, em Guaratinguetá, em 2007
Arquivo Fazenda da Esperança
A tentativa de receber Bento XVI na Fazenda foi uma tarefa árdua, mas que Hans relembra com muito carinho. Segundo o alemão, foi necessário conversar com bispos e cardeais para escreverem cartas falando sobre o projeto, dizendo o que ele significa.
“Juntei 80 cartas. Quando estava com todas as cartas, pensei em levar essas cartas às mãos do Papa”, contou.
Como uma providência divina, Hans foi convidado para falar em um congresso planejado para receber o Papa. Além do alemão, outros representantes também discursaram e todos eles tiveram a oportunidade de conversar pessoalmente com Bento XVI.
“Levei todas as minhas cartas e, quando ele me recebeu, apresentei o projeto. Ele me perguntou: ‘a palavra basta para recuperar uma pessoa?’ Eu disse que sim, que bastava. No final da conversa, eu o convidei para visitar a Fazenda da Esperança e, mais tarde, recebi a confirmação”, disse Hans, que relembrou o sentimento de ter recebido o pontífice.
“Foi um momento tão forte. Me senti tão acolhido. Todos ficaram surpreendidos com a alegria dele, o jeito dele. Ele abraçava as crianças, os jovens. Foi algo que nos marcou”, lembrou.
Papa Bento XVI abraça crianças durante visita à Fazenda da Esperança
Arquivo/Valéria Gonçalves
O reconhecimento do projeto Fazenda da Esperança tornou-se mundial após a visita do Papa – e a amizade entre Hans e o religioso seguiu-se nos anos seguintes, mesmo com a aposentadoria de Bento XVI.
Com o desenvolvimento e expansão para outros países – que já havia sido iniciada anos antes, em 1998, com a inauguração da Fazenda da Esperança em Berlim, na Alemanha –, o projeto tomou outras proporções. Hoje, são mais de 2 mil funcionários trabalhando nas unidades.
“Eu sempre digo para todos os funcionários: se alguém vive a palavra de Deus, comunga Deus. Ele faz crescer a nossa capacidade de amar”, declarou.
Frei Hans Stapel e Nelson Giovanelli, fundadores da Fazenda da Esperança
Arquivo Fazenda da Esperança
A gratidão, citada por Hans ao se referir à Fazenda da Esperança, é algo que o alemão de 77 anos quer perpetuar e deixar como legado nesse projeto.
“Sou muito grato a Deus. Grato a todos que ajudaram, aos que sempre estão ajudando. Gratidão por tudo o que já fizemos e o que poderemos fazer. Meu desejo é passar em todo lugar onde há pessoas em situação de rua, na prisão, e dizer a todos: acreditem! Tem uma solução para se tornar um homem novo”, finalizou.
Centro de ressocialização masculino da Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, SP
Gustavo Cabral
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