Município é o que tem disparado o maior número de quilombolas entre as cidades do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Número representa 1,5% da população total de Ubatuba. Quilombo Caçandoca
Divulgação/Prefeitura de Ubatuba
Com mais de mil moradores quilombolas, Ubatuba (SP) tem quatro comunidades e é a cidade com maior número de mocambos entre os municípios do Vale do Paraíba e Litoral Norte.
Existem, ao todo, 1.371 quilombolas atualmente na cidade, o que representa 1,5% da população total de Ubatuba.
Os dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (27) são inéditos, já que é a primeira vez que o Censo incluiu em seus questionários perguntas para identificar pessoas que se autodenominam quilombolas. Entenda o que é a pesquisa e por que ela é importante.
A segunda cidade da região com maior número descendentes de escravos africanos é São Bento do Sapucaí, que, mesmo na segunda posição, tem uma população consideravelmente melhor: 111.
Em seguida vem Guaratinguetá, com 33. Em Bom Jesus dos Perdões, na região bragantina, há 26 quilombolas.
Historicamente, os quilombos eram espaços de liberdade e resistência onde viviam comunidades de pessoas escravizadas fugitivas entre os séculos XVI e XIX.
Cem anos depois da abolição da escravidão, a Constituição de 1988 criou a nomenclatura “comunidades remanescentes de quilombos” – expressão que foi sendo substituída pelo termo “quilombola” ao longo dos anos.
Quilombo Caçandoca
Divulgação/Prefeitura de Ubatuba
Uma pessoa que se autodetermina quilombola tem, portanto, laços históricos e ancestrais de resistência com a comunidade e com a terra em que vive.
Em Ubatuba, os quilombos começaram no século XIX e quatro existem até hoje – leia mais detalhes da história abaixo. A maior delas, chamada Caçandoca, é integrada atualmente por cerca de 85 famílias.
Leia mais notícias do Vale do Paraíba e região
Quilombo Caçandoca
Segundo a Fundart (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba), ligada à prefeitura, a Caçandoca é conhecida como a primeira comunidade quilombola no país a conseguir um decreto de desapropriação do governo federal. Isso aconteceu em 2006.
Quilombo Caçandoca
Divulgação/Prefeitura de Ubatuba
A história do quilombo, no entanto, começou muito antes disso. O local onde hoje mora a comunidade fazia parte de uma fazenda escravocrata, no século XIX, que produzia café e cana de açúcar.
Com a abolição, muitos escravos foram embora, mas outros ficaram na fazenda e se juntaram a outros ex-escravos que apareciam de outros lugares.
Quilombo Caçandoca
Divulgação/Prefeitura de Ubatuba
Um dos líderes da comunidade, o Jurandir do Prado afirma que o local tem 890 hectares de terra, onde vivem atualmente 85 famílias. De acordo com ele, boa parte (principalmente os adultos ) é considerada viajante por conta de trabalhar no centro da cidade ou em outros locais.
Quem mora e fica 100% do tempo no quilombo – normalmente, sai apenas para ter acesso a saúde, por exemplo, já que o local não tem unidades de serviço da prefeitura – vive do turismo.
“Hoje vivemos só do turista, de pessoas que vêm de fora e querem conhecer a comunidade e a região. Contamos nossa história, nossas origens e mostramos o espaço. Aqui ainda há ruínas do passado e alguns outros sinais que só há acesso por trilha, como o que sobrou de um cemitério dos escravos”, conta Jurandir.
Segundo o quilombola, o acesso aos locais com sinais do passado só é possível por trilha pois, a maioria da região foi completamente destruída e geograficamente mudada por conta da exploração.
Hoje, no entanto, a comunidade protege o espaço e luta pelo que é legalmente dela. “É a nossa terra. É particular e reconhecida pelas autoridades. Eu tenho muito orgulho da nossa origem e do local em que vivemos. É deve lutar pelo que pertence a mim”, diz Jurandir.
Quilombo Caçandoca
Divulgação/Prefeitura de Ubatuba
História dos quilombos de Ubatuba
De acordo com a Fundart, a origem dos quilombos em Ubatuba passa por diversas fases. O primeiro motivo para a existência de comunidades se dá com a chegada de colonos estrangeiros na região, que até então tinha poucos escravos por conta do pequeno poderio financeiro de seus proprietários.
Com os colonos, no entanto, o investimento aumento e foram comprados grandes lotes de terras, o que culminou na chegada de uma enorme população de origem africana para trabalhar nelas.
Com o declínio da produção cafeeira, no entanto, a partir da metade do século XIX, essas terrar foram abandonadas e vendidas. Algumas porções acabaram sendo ocupadas e doadas a ex-escravos.
Um dos outros principais motivos foi a construção da rodovia Rio-Santos na década de 1970. Até então, o acesso à região era complicado, mas com a estrada a entrada de grileiros e especuladores imobiliários foi facilitada.
Isso fez com quem muitas comunidades descendentes de escravos fossem expulsas de suas possas e obrigadas a mudar do local onde viviam.
Quilombo Fazenda Picinguaba
Divulgação/Prefeitura de Ubatuba
Conheça os outros três quilombos de Ubatuba
Quilombo Camburi
A comunidade do Camburi tem cerca de 40 famílias, de acordo com a Fundart, e fica bem próximo à Paraty, no Rio de Janeiro. A região é ocupada pelos quilombolas há aproximadamente 150 anos.
Praia do Camburi, em Ubatuba
Divulgação/Prefeitura de Ubatuba
Quilombo Fazenda Picinguaba
Ainda conforme a Fundart, a origem da Fazenda Picinguaba (refúgio de peixes, no tupi guarani) remonta o final do século XIX, quando faleceu Maria Alves de Paiva, proprietária do imóvel. Em testamento, ela declarou em 1884 o desejo de que seus escravos fossem libertos e pudessem habitar em certas áreas do local.
Em 1975, para controlar grilagens e invasões de terra, a fazenda foi anexada ao Parque Estadual da Serra do Mar. Já em 2005, o imóvel recebeu o reconhecimento da Fundação Palmares como sendo um remanescente de quilombo.
Quilombo Fazenda Picinguaba
Divulgação/Prefeitura de Ubatuba
Quilombo Sertão do Itamambuca
Localizada na área rural da cidade, a comunidade conta com cerca de 36 casas e 100 pessoas. Os quilombolas do local são descendentes de antigos escravos que trabalhavam nas terras de Modesto Antônio Barbosa, um fazendeiro que cultivava café e mandioca.
Segundo relato de alguns dos descendentes, com a abolição da escravatura, os escravos continuaram morando no local. O Sertão de Itamambuca foi reconhecido oficialmente como comunidade remanescente de quilombo em 2010.
Veja mais notícias do Vale do Paraíba e região bragantina
Com mais de mil quilombolas, Ubatuba tem quatro comunidades na cidade; conheça os quilombos
Adicionar aos favoritos o Link permanente.