Transformação digital acelera mudanças nas operações logísticas em Santa Catarina


Veículos elétricos para entregas e criação de app para agilizar operações de motoristas nos portos são funções já aplicadas atualmente. Move SC: Portos aguardam investimentos para ampliar resultados
Entregas por drones e carros autônomos – muitos deles elétricos – podem parecer um futuro distante, mas já são realidade em alguns países. O uso da tecnologia de ponta no setor logístico visa elevar a produtividade e otimizar recursos, enquanto companhias adaptam estratégias para que os trabalhos sejam mais eficientes, incluindo o monitoramento de dados em tempo real, uso de inteligência artificial (IA) e criação de aplicativos para auxiliar na rotina.
Os impactos ainda não podem ser previstos, mas são diversas as possibilidades, ressalta o presidente da Câmara de Smart Cities da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Jean Vogel.
“O emprego de IA, não apenas para monitorar, mas também na otimização de rotas de transporte, é sem dúvida um uso com benefício imediato. No entanto, o emprego de IA vai muito além, podendo iniciar na geração da demanda, prevendo e antecipando processos de produção, que devem interligar toda cadeia, iniciando na ordem de compra e indo até a entrega final do produto”, acredita Vogel.
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
Uso de tecnologias para otimização do transporte
Divulgação
O uso de modais híbridos proporciona a otimização dos custos de transporte, ao priorizar o modelo mais adequado para cada etapa, possivelmente combustão nas grandes distâncias e elétrico nas curtas, completa Vogel. Dessa forma, os custos são reduzidos, assim como as emissões de gases e poluição sonora nos grandes centros.
“A utilização de veículos autônomos também fará parte da nossa realidade em breve. Se um pouco mais distante em se tratando de grandes distâncias a serem cobertas por caminhões de carga, na última milha, muito em breve drones poderão fazer entregas de forma muito ágil. Na China e nos Estados Unidos, isso já é uma realidade”, adianta o especialista.
Grandes empresas apostam em tecnologias para otimizar logística
Uma das maiores cooperativas do país, a Aurora Coop, usa plataformas de software e conta com apoio de empresas especializadas em logística que oferecem soluções inovadoras para gerenciamento de transporte, rastreamento e otimização de processos.
“Com suporte do desenvolvimento de métodos ágeis em nossos processos, conseguimos incrementar melhorias constantes em nossa malha logística voltada a automação de processos e adição de IA à nossa base de dados para novos projetos”, reforça o diretor de logística Ricardo de Souza.
Além disso, a cooperativa usa alguns caminhões elétricos em sua frota dedicada às entregas urbanas, com baixa necessidade de quilometragem e alta concentração de entregas.
Souza reitera que os veículos possuem um bom desempenho, mas ampliar esse uso requer mais pontos de recarga e incentivos para tornar os veículos mais baratos.
Segundo a Portonave, terminal portuário privado localizado em Navegantes, a transformação digital leva a novas oportunidades, o que requer adaptações constantes. Por isso, lançou o aplicativo Siga em Frente, para facilitar a rotina dos motoristas que acessam o Terminal.
O projeto piloto começou em novembro de 2023, mas o lançamento oficial ocorreu em ação no Dia do Motorista, em 25 de julho. Até o dia 16 de agosto, 2.192 downloads já haviam sido realizados.
Aplicativo ‘Siga em Frente’, da Portonave
Divulgação
Impactos positivos
De acordo com os últimos dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), de junho deste ano, a Portonave registrou a melhor produtividade média dos portos do país. O porto soma 2 mil acessos de caminhões diários, mas pode ultrapassar 3 mil em dias de pico.
Com o aplicativo, os procedimentos obrigatórios podem ser feitos totalmente on-line, agilizando a entrada e saída das cargas. Hoje, o tempo médio de permanência de caminhões no Terminal Portuário é de 30 minutos e a intenção é ser o mais ágil e eficiente possível.
O objetivo é proporcionar ao motorista o acesso a dados de forma autônoma, destaca Jardel Fischer, gerente de TI do terminal portuário.
“Ele não precisa mais vir fisicamente para fazer treinamentos, assinar documentos, mas realiza de forma eletrônica, dando mais agilidade nos processos, e desburocratizando a vida do motorista”, detalha.
O motorista dependia de um terceiro para ser orientado, agora possui autonomia, com informações em tempo real. Se houver algum problema com agendamento, é possível facilitar a comunicação.
“O próprio app consegue receber e gerar alertas para o nosso time de planejamento. Tudo é dado e dado gera informação. A partir desse momento, nosso planejamento consegue trabalhar uma visão operacional mais estratégica, com um misto de IA”, completa.
Entre outras funcionalidades, estão:
acompanhar etapas da operação em tempo real
verificar localização de armazenagem ou retirada do contêiner
gerar relatório das visitas
receber alertas e notificações
acessar canal de atendimento exclusivo
ler comunicados e notícias da empresa
descobrir as melhores rotas para chegar ao Terminal de acordo com a localização
No futuro, o app deve ter como funcionalidade um novo processo para liberação das cargas de Declaração de Trânsito Aduaneiro (DTA), em conjunto com a Receita Federal, e será disponibilizada a liberação de cargas no regime Declaração de Trânsito de Contêiner (DTC).
A Portonave ainda pretende focar na segurança, ampliando o uso de OCR (conversor de imagem em texto) para leituras de placas em pontos estratégicos. Se um caminhão errou o local, ou circula de forma errônea por um tempo expressivo, fica o alerta para identificação de casos de tráfico, por exemplo.
Porto de Navegantes, no Litoral Norte de Santa Catarina
Divulgação/Portonave
Aprimoramento de tecnologias requer união de esforços, diz entidade
O setor produtivo entende como primordial o esforço conjunto do setor público e privado para que essas tecnologias sejam aplicadas com mais agilidade para desenvolver o setor logístico. De acordo com a Fiesc, o assunto é relevante, mas sensível, pois a aplicação de novas tecnologias exige atualização e construção de legislações específicas.
“Permitir que um caminhão cruze um estado ou país sem um condutor humano é uma tarefa que vai muito além da questão tecnológica. Ao mesmo tempo, o transporte humano via drones pelos céus de nossas cidades irá criar um novo mercado que obrigatoriamente deverá ser regulado”, espera Vogel.
As mudanças previstas vão demandar novos modelos de negócios, possivelmente compartilhar dados e processar informações de várias fontes, em tempo real, o que pode trazer questionamentos sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O esforço será intensificado, mas é necessário, entende Vogel, diante dos ganhos significativos e com grande potencial sob aspectos econômicos e sociais.
Sustentabilidade também é pauta
Quando se pensa no futuro da logística, a pauta ambiental também está em foco. O Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística de Chapecó (Sitran) tem se movimentado neste aspecto promovendo espaços de debate, como o seminário Sigatran, realizado em agosto e que reuniu empresários e líderes do setor para falar sobre ESG.
Seminário Sigatran, realizado em agosto no Oeste catarinense
Divulgação
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias
Adicionar aos favoritos o Link permanente.