‘Tenho um segundo aniversário’, diz engenheiro de Caçapava que passou por transplante de coração


José Marques Gregório Junior recebeu o novo órgão após sete meses de espera. “Foram sete meses e meio sem sentir o vento. Toda vez que abria a porta, eu pensava que podia ser meu novo coração. Hoje tenho dois aniversários, duas datas de nascimento. Tudo é motivo para comemorar”.
Essas palavras são de José Marques Gregório Junior, engenheiro e morador de Caçapava. Ele tem 59 anos, mas também considera que nasceu novamente há pouco mais de quatro meses. Isso porque foi 13 de abril que ele realizou um transplante de coração e, segundo ele, ganhou uma nova vida.
José Marques Gregório Junior, engenheiro de Caçapava, comemora uma nova vida após receber um coração transplantado.
Arquivo pessoal
A espera de Gregório começou em 2014, quando foi diagnosticado com um quadro de insuficiência cardíaca depois de uma aula de natação. Ao g1, ele contou que na época sentia muito cansaço físico, até mesmo na hora de se alimentar.
“Descobri uma miocardiopatia restritiva. Meu miocárdio tinha 32% de fibrose, o coração estava com dificuldade de descanso e de jogar sangue para o organismo. De 2014 a 2019, nós vencemos todas as batalhas. A doença não tinha cura, mas não evoluiu. A partir de 2019, comecei a perder todas”, relembrou.
Os procedimentos para reversão do quadro de arritmia já não faziam o mesmo efeito para José. Após passar por cardioversões, ablação e colocar marca-passos, ele recebeu a notícia que, de fato, apenas um transplante resolveria sua situação. Mesmo na fila desde 2019, ele ainda tinha a expectativa de que a cirurgia não fosse necessária.
Mas, em setembro de 2022, José precisou ser internado. O transplante era a única solução. Ficou sete meses e meio no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor) à espera de um novo coração.
José Marques Gregório Junior, engenheiro de Caçapava, comemora uma nova vida após receber um coração transplantado.
Arquivo pessoal
“Eu tinha uma fé muito grande, tinha certeza que ia dar certo, mas é aquela história ‘vou fazer uma cirurgia de altíssimo grau de periculosidade’. Eu tinha fé que ia sair dali, mas o meu humano tinha muito medo. Peguei infecção, não conseguia comer, perdi 16kg, caí no quarto e machuquei o ombro. Eu vi duas pessoas que sentavam no sofá para conversar comigo, falecerem antes de um coração para elas chegarem”, comentou.
No fim de 2022, ele chegou a receber a notícia de que receberia um coração novo. Mas, após exames, foi visto que o órgão era menor do que seu corpo e a equipe médica desistiu do transplante.
“Quando você completa seis meses lá dentro, vira prioridade, porque você começa a entrar numa fase que afeta diretamente. Eu ligava para minha esposa e só chorava, eu estava cansado. Com seis meses e meio eu olhava e todo dia era igual, cada vez que abriam a porta eu tinha a esperança que podia ser o meu novo coração”
José Marques Gregório Junior e a família
Arquivo pessoal
Uma nova vida
Em abril deste ano, mais precisamente no dia 12, por volta das 19h, José recebeu a notícia que tanto esperava: seu coração estava indo ao seu encontro. O doador tinha 28 anos, era de Santa Catarina e havia tido morte encefálica após um acidente vascular cerebral (AVC).
“É um impacto, uma mistura de medo e alegria ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo que fala ‘e agora?’, também fala ‘graças a Deus’. A partir do aviso já entrei em processo de transplante. Foi jejum, pouca água, exames de sangue, tomar banho, esterilização do corpo. A família é avisada, eles têm que estar lá. Pediram para que eu dormisse até a hora que o transporte chegasse, mas acha que eu dormi?”, relembrou o morador de Caçapava.
José Marques Gregório Junior antes do transplante
Arquivo pessoal
Após a operação o processo de recuperação foi mais rápido do que o esperado. Em quatro dias, ele saiu da UTI e, 24 dias após o transplante, retornou para casa depois de sete meses e meio.
“É muito bom, uma experiência ímpar. Falei para minha esposa: ‘mexeu na casa?’. E ela disse que não. Meu cachorro não me reconheceu de primeira. Você sai com vontade de viver, sai muito afoito, quer fazer tudo o que não fez”, contou com emoção.
Ainda em processo de pós-operatório, ele ainda não pôde retornar a sua vida normal, tem alimentação restrita, usa máscara. Mesmo assim, ele mesmo diz que isso é uma questão de tempo e conta os dias para poder voltar a fazer coisas como passear com seu cachorro.
“Passa a ser vida nova mesmo. Você compara muito com a antiga. Hoje eu subo escada e não canso falo ‘nossa, como eu estava ruim’, sentia cansaço comendo, tinha que parar, respirar. Hoje tenho apenas cansaço físico, porque o coração mesmo bate para valer. Tenho outra data de nascimento, outra data do aniversário mesmo. Tudo é motivo para comemorar”.
* João Delfino colaborou sob a supervisão de Danilo Sardinha
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