Um mês após acidente que matou sete torcedores do Corinthians, sobreviventes sofrem com sequelas e vivem luto: ‘Dói muito ainda’


Sete torcedores morreram no capotamento do ônibus que deixava Minas Gerais e seguia para o Vale do Paraíba, no interior de São Paulo. Além das vítimas fatais, 36 pessoas ficaram feridas. Ônibus que transportava torcedores do Corinthians e capotou na Fernão Dias estava irregular, segundo a ANTT
Rodney Costa/Zimel Press/Estadão Conteúdo
O trágico acidente com o ônibus que transportava torcedores do Corinthians, que deixou sete pessoas mortas e 36 feridos na rodovia Fernão Dias, em Minas Gerais, completa um mês nesta quarta-feira (20).
▶️ O acidente aconteceu no dia 20 de agosto, após a partida do clube contra o Cruzeiro, no estádio Mineirão, em Belo Horizonte. O veículo – que estava irregular – levava 43 torcedores e tinha como destino cidades do Vale do Paraíba, no interior de SP, onde o grupo morava, mas capotou em Igarapé, na Região Metropolitana de BH.
Um mês após o acidente, o g1 conversou com dois sobreviventes que continuam se recuperando das lesões sofridas no capotamento do ônibus e tentam lidar com o luto. Apesar da tristeza e da dor, os dois mantêm um sentimento em comum: o amor pelo Corinthians, time que ajudou no resgate, translado e sepultamento das vítimas.
Acidente com ônibus de torcedores do Corinthians em MG: saiba quem são as vítimas
Reprodução
Perda imensurável
Torcedor do Corinthians desde a infância, o comerciante Cláudio Barros, de 56 anos, é morador de Taubaté e trabalha com a venda de carvão na cidade.
Ele sempre teve o costume de assistir aos jogos do Timão no estádio do clube, a Neo Química Arena, em São Paulo, mas participava pouco de caravanas para as partidas como visitante.
Cláudio Barros, torcedor do Corinthians
Arquivo pessoal
O jogo contra o Cruzeiro, no entanto, foi diferente. Ele participou da caravana para acompanhar o filho Rodrigo Lacerda de Barros, de 32 anos, que tinha o sonho de conhecer o estádio Mineirão.
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Eles foram juntos e voltavam no mesmo banco do ônibus, quando o veículo capotou. Cláudio quebrou oito costelas e teve o pulmão perfurado, mas conseguiu ser resgatado e sobreviveu. O filho não resistiu aos ferimentos e morreu.
“Eu lembro pouca coisa do acidente, mas tive essas lesões e fiquei uma semana internado em Minas Gerais. Tive alta, mas ainda tenho alguns problemas. Preciso ficar de repouso por 90 dias. Tem sido difícil, mas o pior foi perder meu filho”, lamenta.
Rodrigo Lacerda de Barros está entre as vítimas do acidente de ônibus com torcedores do Corinthians
Arquivo pessoal
De acordo com ele, os dois tinham o costume de assistir os jogos sempre juntos, mas também eram muito ligados para diversas outras atividades.
“A gente sempre via (o Corinthians jogar) junto. Não íamos tanto para estádio em jogo fora de casa, mas esse ele quis ir para conhecer o Mineirão e pediu minha companhia. Ele estava muito feliz, até me agradeceu e comentou que tinha valido a pena”, lembrou.
Saiba quem são as vítimas do acidente
Enfrentar o luto da perda do próprio filho é uma dor imensurável e que tem sido difícil para o pai.
“Era um amigão para mim. Cuidava de mim, ficava no meu pé para eu cuidar da minha saúde, procurar médico. Nós gostávamos muito de ir em churrasco e encontro de família junto. O pessoal me chama para churrasco, mas eu nunca mais fui. Não consigo ir sem ele”, conta Cláudio.
Cláudio e Rodrigo, torcedores do Corinthians no jogo contra o Cruzeiro, antes do acidente de ônibus
Arquivo pessoal
Apesar do trauma, o comerciante não pensa em abandonar o Timão. Ele, inclusive, diz ser muito grato ao Corinthians pela assistência prestada pelo clube nos dias seguintes à tragédia e pela homenagem feita no duelo seguinte.
A ideia do torcedor, que foi a cerca de 90 jogos, é voltar a assistir a uma partida na arena assim que estiver recuperado das lesões.
“Meu amor pelo Corinthians segue o mesmo. Na verdade, cresce cada vez mais, principalmente depois da homenagem que fizeram para o meu filho e para os nossos amigos”, diz.
Denilton teve traumatismo craniano após capotamento em MG.
Arquivo pessoal
Dor e recomeço
Outro torcedor apaixonado do clube que estava no ônibus e sobreviveu à tragédia é o Denilton Ferreira Guedes, de 47 anos. Morador de Caçapava, ele é um dos fundadores da sede da torcida organizada Gaviões da Fiel na cidade.
Ele se lembra que estava dormindo até instantes antes do acidente e que acordou com os gritos de outros passageiros de que o veículo estava sem freio.
“Só lembro de acordar com as pessoas gritando e falando do freio. Nisso eu levantei e logo em seguida o ônibus capotou. Bati o tórax e passei a ter muita dificuldade para respirar, mas estava consciente”, se recorda Denilton.
Torcedor que sobreviveu a capotamento teve traumatismo craniano
VÍDEO: Circuito mostra momento que ônibus com torcedores tomba em MG
O torcedor afirma ainda que saiu do ônibus com o auxílio de amigos que também estavam na caravana, e que se recordar de esperar a chegada do resgate do lado de fora.
Ele teve traumatismo craniano e fratura no tórax. Ficou internado em Betim (MG) durante dois dias e, depois, foi transferido para um hospital em Belo Horizonte, onde seguiu com o tratamento na capital mineira por mais 11 dias.
Nil se reencontrou com os outros sobreviventes do acidente que são moradores de Caçapava
Mariah Lagoa/Arquivo Pessoal
Nil, como é conhecido, recebeu alta e conseguiu voltar para Caçapava no início deste mês, quando foi recebido com festa pela família, por amigos e corintianos.
“No momento estou muito bem, mas me recuperando principalmente do maxilar, que se lesionou também. Faço tratamento e acompanhamento”, disse.
Sobrevivente é recebido com festa em Caçapava
Além da recuperação, os 30 dias desde o acidente têm sido de gratidão por ter conseguido sobreviver e de dor pelos amigos que não resistiram aos ferimentos.
“Tenho muito o que agradecer pelo livramento. O acidente não tem como esquecer, mas estou dormindo bem. Graças a Deus não vi os corpos, mas pensar nos amigos dó muito ainda”, lamenta.
Sobrevivente de acidente com ônibus de torcedores do Corinthians é recebido com festa
Mesmo com o susto, Denilton planeja voltar a acompanhar o Corinthians nas caravanas. De acordo com ele, o clube é sua maior paixão.
“Isso nunca vai mudar (relação com o clube). O Corinthians é tudo para nós. Assim que me recuperar vou voltar a frequentar estádio. Sei que muitos pensam que isso é loucura, mas é disso que gostamos, do Corinthians”, conclui.
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