O animal chegou filhote ao Selva Viva, em Taubaté (SP), e já está sendo tratado há dois anos no espaço. Agora que cresceu, a onça passará a receber visitantes, assim como outros animais resgatados pelo zoológico. Conheça Suri, onça-pintada que vai passar a ser exposta ao público em zoológico de SP. Crédito do vídeo: Jair da Silva
Há dois anos, um zoológico de Taubaté, no interior de São Paulo, abriga e cuida de um dos maiores felinos da natureza: a onça-pintada. Chamada de Suri, que significa ‘princesa’ em hebraico, a onça chegou ao recinto ainda filhote, com apenas um mês de vida e foi cuidada longe dos olhos do público.
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Agora que já é considerada adulta, ela passará a ser exposta para os visitantes do espaço, assim como os demais animais resgatados pelo local.
A previsão é que, a partir do dia 16 de dezembro deste ano, Suri passe a receber visitantes do lado de fora do recinto onde vive. O espaço amplo, com lago e bastante área para a onça explorar, fica no Selva Viva, zoológico de cunho educacional e de preservação que funciona no bairro São Gonçalo.
Às vésperas do dia internacional da onça-pintada, celebrado nesta quarta-feira (29), data que marca a importância de preservação do animal listado como ameaçado de extinção, o g1 conversou com uma das cuidadoras de Suri, para saber mais sobre a história do animal, rotina de cuidados e entender o trabalho de preservação que realizam.
Conheça Suri, onça-pintada resgatada que vai passar a ser exposta ao público em zoológico no interior de SP.
Jair da Silva
Origem
Suri nasceu nasceu no dia 10 de novembro de 2021, na reserva de conservação Piracema, que fica no Tocantins, na região norte do país. O local acolhe apenas animais apreendidos pela fiscalização, vítimas de maus-tratos, que dependem de reabilitação ou que não podem ser soltos.
Com a alta demanda de Piracema, quando Suri já tinha um mês de vida, ela foi encaminhada pela reserva para o zoológico Selva Viva, que também realiza o trabalho de acolher somente animais vítimas de maus-tratos, apreendidos pela polícia ou que necessitam levar uma vida em cativeiro, sem condições de voltar para a natureza.
“A Suri chegou novinha pra gente. Pegamos desde a fase bebezinha dela, que precisava passar as madrugadas mamando, necessitava passar bastante tempo próximo, até a fase que ela está hoje, com dois anos, sendo já considerada uma adulta”, conta Nicole Félix, estudante de biologia, tratadora da Suri e líder do setor de aves e mamíferos do projeto Selva viva.
Conheça Suri, onça-pintada resgatada que vai passar a ser exposta ao público em zoológico no interior de SP.
Jair da Silva
Carnívora, Suri se alimenta de outros animais. A estimativa é que ela já esteja pesando pelo menos 70 kg. Maior felino das Américas e maior carnívoro da América do Sul, as onças podem chegar até a 135 kg.
“A gente estima que ela já tenha passado dos 70 quilos e eu estou chutando baixo. Ela continua respeitando bastante os tratadores, mas a gente já não tem mais contato físico com ela, né? Pela segurança dela e também de quem faz o manejo”, explicou.
Mesmo adulta, Suri não conseguiu deixar alguns hábitos de filhote. Assim como os gatos, que também são felinos, ainda hoje a onça ama brincar com caixas. No entanto, aos poucos, os tratadores percebem que o animal está amadurecendo.
“Ela continua sendo brincalhona, interage, gosta muito de caixa, de ossos e de brinquedos. Ela continua com algumas atitudes de filhote, mas ao mesmo tempo já chegou na fase adulta. A gente já percebe que houve uma mudança muito grande no olhar dela, na maneira que ela se comporta e até nos rugidos que ela dá”, contou.
Conheça Suri, onça-pintada resgatada que vai passar a ser exposta ao público em zoológico no interior de SP.
Jair da Silva
Como passou a vida toda tendo contato apenas com os tratadores e a equipe do Selva Viva, vai ser uma experiência nova para Suri poder avistar pessoas desconhecidas do outro lado do recinto. A equipe está empolgada e acredita que vai ser positivo, pois a felina tem sido receptiva.
“Até então ela não teve interação com visitantes, ela tem interação apenas com os tratadores, com a equipe do Projeto Selva Viva e com algumas pessoas que passam para fazer obras. A gente acredita que vai ser um pouco novo para ela a partir do momento que for inaugurada essa parte onde fica o recinto, mas ela gosta, ela interage super bem com as pessoas. Até então, ela não demonstrou nenhum tipo de comportamento que apontasse estresse”, avaliou Nicole.
VIDEO mostra Suri tomando picolé de carne para se refrescar no calor.
Após as refeições, que são servidas duas vezes ao dia, e ao fim das brincadeiras programadas, Suri fica livre para explorar o recinto. Segundo Nicole, o que a onça mais gosta de fazer é brincar no lago e aproveitar a chuva. Quando está muito calor, ela ganha até picolé de carne para se refrescar (veja vídeo acima).
“Ela tem um lago enorme lá para ela nadar e os felinos nadam muito bem, também são ótimos escaladores. Então, a gente incentiva que ela nade. Ela ama tomar chuva, quando tá calor ganha picolé de carne e gosta muito de caixa, então a gente esconde comida dentro das caixas e ela se distrai. A Suri tem também um fêmur bovino que ela arrasta para tudo quanto é lado pra brincar”, contou rindo.
Conheça Suri, onça-pintada resgatada que vai passar a ser exposta ao público em zoológico no interior de SP.
Jair da Silva
Instintos
De acordo com a bióloga, há um estigma de violência e agressividade que é colocado como marca da onça-pintada, mas que para ela é equivocado. Nicole argumenta que a onça-pintada é um animal forte, soberano, carnívoro, de grande porte, mas que somente ataca quando se sente ameaçado ou para defender a própria cria, não é uma agressividade gratuita, é um instinto de sobrevivência.
“A onças são animais que observam muito o ambiente e, dificilmente, as interações com humanos vai acontecer na natureza. A não ser que realmente o animal precise se defender ou precise defender uma cria deles, é que essa interação ocorre. Na natureza, apesar dela saber do potencial que ela tem, de soberania, ela evita esse contato”, analisou como profissional da área.
“A Suri não é diferente disso, apesar de estar acostumada também, não é o tempo todo que ela vem pra interagir com a gente. Ela evita quando ela não está confortável com alguma coisa. Mesmo assim, nunca tivemos problema nem de demonstração de agressividade com nenhum tratador, nem de acidentes mesmo. Eu acredito que seja graças ao trabalho que foi feito com ela desde que ela era pequena”, disse.
“Hoje, a gente incentiva que ela use os instintos que ela tem, que ela expresse os comportamentos naturais dela. A intenção nunca é tirar esse instinto do animal e sim que ele mantenha essas características, mas sempre preservando a segurança dos tratadores, a segurança do próprio animal e evitar situações que possam trazer risco para as duas partes”, narrou.
Imagem de arquivo – Onça-pintada no Pantanal
Gustavo Figueirôa/Arquivo Pessoal
Preservação
O Dia Internacional da onça-pintada é a data escolhida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com o objetivo de sensibilizar as pessoas, em todo o mundo, a respeito da importância de se proteger o maior felino das Américas.
No dia 29 de novembro, no Brasil também celebramos o Dia Nacional da onça-pintada, para divulgar a importância ecológica, cultural e econômica desse animal, que é tido como símbolo brasileiro da conservação da biodiversidade.
Segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente de SP, quase metade da quantidade original das onças pintadas já se perdeu, devido às alterações ambientais provocadas por ações humanas, à caça predatória criminosa, tanto das onças, quanto de suas presas, que fazem parte de sua alimentação, desmatamentos, queimadas e consequente perda de habitats, o que deixa esses grandes felinos sob grave risco de extinção.
Imagem de arquivo – Uma onça-pintada no Pantanal mato-grossense, em setembro de 2020.
Leandro Cagiano/Greenpeace
Nicole destaca que o trabalho que realizam para que Suri tenha uma longevidade, com qualidade de vida, faz parte de uma ação global para preservar a espécie. Segundo ela, a preocupação com a extinção da onça-pintada é mundial, sendo o dia 29 de novembro uma oportunidade para trazer o tema em debate para a sociedade.
“A onça-pintada é um animal que, mundialmente, está na lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção. A onça-pintada, não só aqui no Brasil e nas Américas, ela tem uma importância mundial”, disse.
“É um quadro preocupante ver várias notícias de populações que estão decrescendo, de onças que estão sofrendo, a fase de queimadas no Pantanal na qual as onças são vítimas. Elas têm uma importância muito grande e precisam ser preservadas”, completou.
Répteis, anfíbios, mamíferos, aves e até insetos já passaram pelo Projeto
Projeto Selva Viva
Selva Viva
O Projeto Selva Viva faz tratamento e acolhimento de animais resgatados de cativeiro, em situação de maus-tratos e de apreensões da Polícia Ambiental.
O zoológico conta com aracnídeos, mamíferos e répteis para exposição. Entre os animais estão lêmures, flamingos, jacaré-de-papo-amarelo e corujas. Alguns dos animais estão no projeto desde 2005, quando o trabalho de recuperação foi iniciado.
Desde 2016 o espaço tem licença para funcionar como zoológico aberto ao público. O local só funciona aos fins de semana porque nos outros dias atua com educação ambiental com escolas. De acordo com a administração, uma das frentes do projeto é a conscientização sobre animais silvestres.
O local funciona aos fins de semana e feriados, das 9h até às 17h. Os ingressos podem ser comprados no local. O endereço é Estrada Municipal do Barreiro, n° 7.659.
Lêmures em zoológico de Taubaté
Marcus Buononato/Projeto Selva Viva
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