Associação de advogados foi contratada, sem licitação, para atuar na disputa pelos royalties contra Ilhabela. Uma decisão da Justiça desta quinta-feira (30) determinou que o pagamento fosse suspenso. Prefeitura de São Sebastião, SP
Divulgação/Prefeitura de São Sebastião
Uma ação popular pede a devolução de R$ 56,7 milhões ou o bloqueio de bens de uma consultoria contratada pela Prefeitura de São Sebastião, no Litoral Norte de SP. A consultoria é a Associação Núcleo Universitário de Pesquisas, Estudos e Consultoria (Nupec), que representa a administração municipal na disputa bilionária por royalties de petróleo contra Ilhabela.
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O Ministério Público entrou com pedido de medida cautelar para tentar suspender o contrato e barrar os pagamentos. Na noite desta quinta-feira (30), a Justiça proibiu temporariamente a transferência do dinheiro ao Nupec, mas nesta sexta-feira foi descoberto que o pagamento já havia sido feito antes da decisão – leia mais detalhes abaixo.
A reportagem apurou que até quinta-feira (30), segundo o Portal da Transparência, o valor de R$ 56,7 milhões destinado a Nupec estava empenhado (reservado) pela prefeitura de São Sebastião. Ou seja, o dinheiro estava reservado, mas não havia nenhum pagamento de fato (veja imagem abaixo).
Empenho declarado no Portal Transparência.
Reprodução
No entanto, nesta sexta-feira (1º), a informação foi atualizada no Portal Transparência, que aponta que o valor milionário já havia sido transferido para o Nupec na última terça-feira (28) (veja foto abaixo).
Transferência declarada no Portal Transparência.
Reprodução
As notas fiscais referentes aos pagamentos são da última segunda-feira (27) e mostram que o valor foi dividido em três parcelas: uma de quase R$ 54 milhões, outra de pouco mais de R$ 1,5 milhão e uma terceira de R$ 1,2 milhão.
Em entrevista para o Jornal Vanguarda, o advogado dos autores da ação informou que entende que a prefeitura não descumpriu a determinação judicial, mas argumenta que o órgão não deveria ter efetuado o pagamento.
O que dizem os envolvidos
Questionada pela reportagem, a Prefeitura de São Sebastião disse que como o pagamento foi feito no dia 28 de dezembro, dois dias antes da decisão de suspensão dos pagamentos, não havia qualquer impedimento judicial na data para realizar a transferência.
Por meio de nota, a Nupec, associação que recebeu o pagamento, informou que não foi intimada de qualquer decisão em sentido contrário aos pagamentos e que vai se manifestar somente após ser intimada.
Fachada do MPSP em Caraguatatuba.
Reprodução/TV Vanguarda
Justiça acata denuncia do MP
A Justiça determinou, na noite desta quinta-feira (30), que a Prefeitura de São Sebastião suspenda o pagamento de mais de R$ 56,7 milhões para a Associação Núcleo Universitário de Pesquisas, Estudos e Consultoria (Nupec), que representou a administração municipal na disputa bilionária por royalties de petróleo contra Ilhabela.
A decisão em caráter liminar atende a um pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo. Na decisão, o relator Cláudio Augusto Pedrassi, da 2ª Câmara de Direito Público, determinou que o pagamento fique suspenso até que o recurso movido pelo MP seja julgado.
“Deste modo, de rigor o deferimento parcial da liminar, para restaurar a liminar anteriormente deferida, ficando a Municipalidade impedida de efetuar qualquer pagamento aos contratados até julgamento do recurso de apelação”, disse o relator na decisão.
Para o promotor Valério Moreira de Santana, existem indícios de ilegalidades na contratação dos serviços advocatícios – veja mais abaixo. Por isso, o órgão defende que os pagamentos sejam suspensos até a análise final da Justiça.
“A emissão de um empenho nesse valor, antes do resultado final da ação, é uma atitude um tanto temerária. Seria adequado que se tivesse um pouco de cautela na emissão de valores e empenho de tão elevados valores, porque uma vez que esse dinheiro é pago, fica muito difícil depois, para o sistema de justiça, reaver esses valores”, argumentou.
Para o MP, a prefeitura dispõe de uma equipe jurídica que atua em assuntos relacionados aos royalties há anos. Por isso, entende que não havia a necessidade da contratação de um escritório especializado.
“A prefeitura já recebe royalties há alguns anos, ou seja, não se trata de uma matéria inédita para a prefeitura. Os procuradores da prefeitura já atuaram em demandas relacionadas a essa matéria, antes da contratação da NUPEC. Ainda que a prefeitura decidisse contratar esses serviços, essa contratação deveria ser realizada por meio de procedimento licitatório”, afirma o promotor.
Ainda de acordo com o promotor, o fato da contratação dos serviços da associação ter sido feita sem passar por um processo licitatório, pode configurar improbidade administrativa.
Prédio da prefeitura de São Sebastião
João Mota/TV Vanguarda
Entenda a disputa
A Nupec foi contratada pela gestão do prefeito Felipe Augusto (PSDB) em julho de 2022 por inexigibilidade de licitação.
O contrato detalha como “serviços técnicos profissionais em causas judiciais e administrativas que envolvam participações governamentais devidas pela exploração de petróleo e gás natural”.
Os honorários são de “20% incidente sobre o montante efetivamente recuperado ao município”. Esse montante foi definido pela justiça: R$ 1 bilhão, que já foi depositado para São Sebastião.
A ação foi movida por uma moradora, que alegou que a prefeitura dispõe de procuradores municipais e apontou que a Nupec é alvo de investigações pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e do Tribunal de Contas do mesmo estado.
No último dia 21, a ação popular foi julgada improcedente, com a fundamentação de que “a especialização profissional e a natureza singular do serviço hão de ser reconhecidas”. Apesar disso, a decisão diz que o pagamento deve ser feito apenas após o trânsito em julgado de decisão definitiva ou homologação de acordo.
No dia 23 de novembro, a Prefeitura de São Sebastião empenhou mais de R$ 56,7 milhões à Nupec. O MP então entrou nesta quinta-feira com um pedido de efeito suspensivo em que questiona a legalidade do contrato e pede que o pagamento não seja feito até julgamento definitivo sobre a legalidade do contrato.
Já nesta quinta-feira (30), a Justiça acatou o pedido do MP e determinou a suspensão do pagamento até que o recurso fosse julgado. Apesar disso, nesta sexta-feira (1º), veio a público que o pagamento já havia sido realizado pela prefeitura e uma ação popular foi movida para tentar reaver o dinheiro ou possibilitar o bloqueio de bens da associação que recebeu o pagamento.
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