Estudo multidisciplinar aponta fatores que agravaram tragédia em São Sebastião


Desastre causado pela chuva em fevereiro de 2023 decorreu da combinação de condições climáticas com as consequências das ações humanas potencializadas com a segregação social Em 19 de fevereiro de 2024, a tragédia que deixou mais de 60 mortos em São Sebastião completa um ano. A chuva histórica superou 600 milímetros em 24 horas, o maior acumulado já registrado no país pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemanden).
Diante da catástrofe, pesquisadores do programa de mestrado e doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté (UNITAU), em parceria com estudiosos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Centro Paula Souza (CPS), desenvolveram o estudo multidisciplinar “Desenvolvimento regional e a intensificação das catástrofes socionaturais: o caso do município de São Sebastião/SP”, recém publicado na Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional.
“Nosso objetivo foi estabelecer a relação entre o processo de ocupação do espaço e a ampliação dos riscos para a população no município de São Sebastião e analisar os fatores que contribuíram para o desastre ambiental ocorrido na cidade”, explica o coordenador do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UNITAU, Prof. Dr. Edson Trajano.
Para consolidar o estudo, os pesquisadores analisaram dados econômicos, sociais, demográficos e climáticos e chegaram à conclusão de que o desastre ocorrido em São Sebastião é resultado da combinação entre as condições climáticas e as consequências das ações humanas, potencializadas com a segregação social e espacial existente no município.
Conforme dados dos censos demográficos do IBGE, a população do Litoral Norte cresceu de 87.738 habitantes, em 1980, para 309.395 habitantes, em 2022, um aumento de 252,64%. Nesse mesmo período, o crescimento populacional da RMVale foi de 125,21% e do estado de São Paulo, de 77,38%. Já a média nacional ficou em 70,62%. Considerando apenas São Sebastião, município mais impactado pela tragédia de 19 de fevereiro de 2023, o número de habitantes saltou de 18.997, em 1980, para 81.540, em 2022.
O número de domicílios ocupados no Litoral Norte também cresceu acima da média entre 1980 e 2022, com aumento de 550,31%. A porcentagem é bem superior à média regional (RMVale: 229,65%), estadual (179,70%) e nacional (187,37%).
Ainda de acordo com a pesquisa, o desenvolvimento do Litoral Norte, a partir da década de 1950, foi motivado pela ampliação das atividades turística e portuária relacionada ao petróleo, que refletiram num crescimento econômico da região de 765,05% no período entre 1980 e 2020, conforme dados do Ipeadata.
O papel da ação humana e das mudanças climáticas
Cabe destacar que o estudo tem abordagem multidisciplinar e transdisciplinar, com contribuições advindas da economia, história, sociologia, geografia e meteorologia, cuja associação possibilitou a compreensão dos efeitos das ações humanas no ambiente, desde a expansão da malha urbana de São Sebastião, aos possíveis efeitos do aquecimento global relacionado às atividades humanas.
Nesse contexto, chama a atenção que, até 1991, apenas 2,7% da malha urbanizada de São Sebastião estavam localizadas em áreas de relevo ondulado, e apenas 0,2% em relevo de ondulação forte. A partir de meados da década de 1990 e início de 2000, houve aumento significativo da expansão urbana em áreas de risco e propensas à ocorrência de desastres naturais. A região passou a ter 5,1% de sua área em terrenos ondulados (+88,8%), e 0,7% em regiões de ondulação forte (+250%). A maior expansão da urbanização ocorreu justamente na porção sul do município onde o desastre natural estudado teve maior impacto.
Apesar de o INMET ter feito uma previsão de chuva intensa para o período, o volume projetado pelo Instituto ficou abaixo do ocorrido. Isso porque as condições climáticas favoreceram o transporte de umidade da Amazônia para a região sudeste e um sistema ciclônico extratropical ajudou na formação de chuvas intensas. O resultado foi um alto acumulado pluviométrico em 24 horas, associado à ação humana de supressão da vegetação nativa das encostas e de instalação de infraestruturas urbanas, que refletiram no agravamento da situação que já era de elevado risco e vulnerabilidade para a população local.
“A configuração da urbanização expôs, progressivamente, a população do município de São Sebastião, residente em áreas de risco, às consequências advindas de condições climatológicas excepcionais, como aquelas ocorridas em fevereiro de 2023 e descritas no artigo em tela. O desastre ocorrido em São Sebastião decorre, desse modo, da combinação de condições climáticas com as consequências das ações antrópicas potencializadas com a segregação social e espacial presente no município”, diz trecho da pesquisa que não descarta, ainda, o impacto do aquecimento global para o agravamento do episódio.
Para o Prof. Dr. Edson Trajano, a produção de conhecimento sobre a realidade do Litoral Norte do Estado de São Paulo é imprescindível para subsidiar a gestão pública frente aos desafios oriundos da combinação do crescimento econômico, configuração do território e mudanças climáticas.
“É fundamental a criação de políticas públicas pautadas na inclusão social, econômica e territorial, assim como a não ocupação do solo nas áreas de risco. A gestão urbana precisa priorizar a inclusão social e a sustentabilidade econômica e social”, afirma Trajano.
Para conferir a pesquisa completa, acesse este link.
Pós-graduação na UNITAU
A Universidade de Taubaté está com inscrições abertas para mais de 20 cursos de pós-graduação presenciais e a distância, incluindo especializações, mestrados e doutorados nas áreas da saúde, da educação, da gestão, da administração e negócios, da engenharia, das ciências ambientais, entre outras.
Para os cursos stricto sensu, a Universidade oferece mais de 40 bolsas de estudo, financiadas pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ainda há bolsas previstas para parcerias, egressos e docentes que podem chegar a até 25% conforme as deliberações 139 (stricto sensu) e 140 (lato sensu) do Conselho de Administração (Consad) da Universidade.
Para mais informações sobre os cursos de pós-graduação acesse este link.
ACOM/UNITAU

Adicionar aos favoritos o Link permanente.