Transatlântico tinha características semelhantes ao Titanic e afundou após bater em uma barreira de corais em Ilhabela (SP). Cargas misteriosas que estavam no navio foram encontradas por mergulhadores. Navio Príncipe de Astúrias no fundo do mar, na costa de Ilhabela, SP.
Divulgação
A Guarda Costeira dos Estados Unidos confirmou, na tarde desta quinta-feira (22), que todos a bordo do submarino que tinha como destino revisitar o Titanic, que afundou em 1912, morreram após uma implosão do submersível.
O naufrágio do Titanic é considerado o mais famoso do mundo e ganhou filme, livros e virou alvo de diversos estudos e pesquisas.
O que pouca gente sabe, porém, é que quatro anos após o Titanic afundar, outro navio, semelhante ao transatlântico, também naufragou, vitimando pelo menos 654 pessoas. E tudo isso aconteceu em território brasileiro – mais precisamente no litoral norte de São Paulo.
História
Na madrugada do dia 5 de março de 1916, 16 dias após sua partida em Barcelona, na Espanha, o transatlântico ‘Príncipe de Astúrias’ passava pela costa de Ilhabela, em direção ao Porto de Santos, no litoral paulista.
Segundo historiadores, a rota de travessia do Atlântico durava cerca de 30 dias, saindo de Barcelona e escalando em Cadiz, ainda na Espanha; Las Palmas, nas Ilhas Canárias; Rio de Janeiro e Santos, no Brasil; além de Montevidéu, no Uruguai, antes de chegar a Buenos Aires, na Argentina.
Viagem inaugural do navio Príncipe de Astúrias em 1914
Créditos: arquivo
Era uma segunda-feira de carnaval e, do lado de dentro do navio, os passageiros dançavam marchinhas no salão de baile do navio, enquanto do lado de fora, uma forte chuva caía, deixando a visibilidade baixa até mesmo para o experiente capitão José Lotina.
Não houve outra alternativa a não ser mudar a rota que seguiam. Ao invés de continuar em mar aberto em direção a cidade de Santos, Lotina fez um desvio para a parte rasa, sem saber que estava entrando em uma área de corais. Foi quando o navio se chocou contra uma barreira de corais na Ponta de Pirabura.
LEIA TAMBÉM
Do início da expedição à confirmação de morte dos tripulantes: veja a cronologia do submarino desaparecido
Conheça o Odysseus 6K, robô que encontrou destroços nas áreas de buscas pelo submarino
Em 2021, explorador desistiu de viagem em submarino ao perceber problemas técnicos
Com o impacto, uma fenda de pelo menos 40 metros foi aberta no casco do transatlântico, que tinha uma estrutura de duplo casco, assim como a utilizada no Titanic. À época, essa tecnologia era conhecida por ser segura e ajudar a tornar a viagem mais rápida.
Sobreviventes chegaram a relatar que a água começou a invadir a sala de máquinas e duas das caldeiras explodiram. Muitas pessoas morreram imediatamente e várias outras morreram ao serem tragadas para o fundo do mar, por causa da sucção gerada pela pressão. O corpo do capitão José Lotina nunca foi encontrado, assim como o de seu primeiro oficial, Antônio Salazar Linas.
Resgate
Oficialmente, em sua última viagem, o Príncipe de Astúrias transportava 654 passageiros. Entretanto, muitos estudiosos acreditam que havia pessoas viajando junto às cargas no porão, de forma clandestina, em uma tentativa desesperada para sair dos países em guerra na Europa. A estimativa é que pelo menos 1 mil pessoas estivessem a bordo.
Escada do navio príncipe de Astúrias
Créditos: acervo Globo
Algum tempo depois do naufrágio, o navio inglês Vegas, que fazia a mesma rota em direção a Santos, percebeu que algo estava acontecendo próximo à costa de Ilhabela e se aproximou do local.
O transatlântico ajudou no resgate de alguns sobreviventes, que conseguiram nadar ou se seguraram em algum tipo de objeto até se salvarem. Além de sobreviventes, alguns corpos foram recolhidos do mar pela tripulação.
Quando os corpos foram encontrados, foram enterrados nas praias, sendo cerca de 600 pessoas na Praia da Serraria, além de outros 300 enterrados na Praia de Castelhanos. A Praia da Caveira, que antes não tinha esse nome, serviu de cemitério para as vítimas da tragédia e, até hoje, esses locais são cercados de lendas sobre o caso.
O navio e suas cargas
O navio chegou a concluir seis viagens entre Barcelona e Buenos Aires e estava na sétima travessia quando naufragou. Ele foi construído em 1914, na Escócia, sob encomenda de uma companhia espanhola.
Com três classes com diferentes acomodações, o Príncipe de Astúrias era um navio misto e comportava, ao todo, 1.890 tripulantes e passageiros, além de todo tipo de carga.
Em sua última viagem, itens curiosos estavam sendo transportados, entre eles 12 estátuas que haviam sido encomendadas pela Espanha para serem colocadas no Parque Palermo, em Buenos Aires, como parte do monumento “la Carta Magna y las Cuatro Regiones Argentinas” – inaugurado em comemoração aos 90 anos da independência da Argentina.
As peças foram feitas de bronze e custaram 40 mil libras-ouro no total, um valor expressivo na época.
Em 1990, uma das estátuas foi encontrada por mergulhadores e atualmente está exposta no Serviço de Documentação Geral da Marinha, no Primeiro Distrito Naval, no Rio de Janeiro. Das outras 11, somente pedaços foram recuperados.
Estátua encontrada depois do naufrágio do navio Príncipe de Astúrias
Crédito: divulgação
Algumas relíquias do transatlântico foram recuperadas pelos mergulhadores ao longo dos anos, além de artefatos encontrados na época do naufrágio por moradores da ilha. Talheres e pratos utilizados pelos hospedes a bordo e até mesmo bonecas de meninas que estavam viajando foram resgatadas do fundo do mar.
Ponta da Pirabura em Ilhabela, onde o navio Príncipe de Astúrias naufragou
Créditos: divulgação
Veja mais notícias do Vale do Paraíba e região bragantina
Há 107 anos, ‘Titanic brasileiro’ naufragou com mais de 650 pessoas no Litoral Norte de SP; relembre
Adicionar aos favoritos o Link permanente.