Levantamento mostra que retorno do principal índice da bolsa argentina em dólares foi de 114,91%, enquanto Ibovespa recuou 29,92%. Vista do prédio da B3, Bolsa de valores de São Paulo, localizada na região central da capital paulista, nesta sexta-feira (12). O Ibovespa flertou com os 129 mil pontos na máxima do dia, encerrando aos 128.896,98 pontos, em alta de 0,47% na sessão. Foi o quarto avanço semanal consecutivo para o índice da B3, que sobe agora 4,03% no mês, cedendo ainda 3,94% no ano.
GABRIEL SILVA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O S&P Merval, principal índice acionário da bolsa de valores da Argentina, teve o melhor desempenho global de 2024, tanto em moeda local (quando o retorno dos investimentos é avaliado na moeda do país), quanto em dólares (quando o retorno é convertido para a moeda americana para padronizar os resultados).
De janeiro a dezembro, o Merval apresentou uma rentabilidade de 174,46% em pesos argentinos e de 114,91% em dólares, superando com larga distância o segundo colocado — o Nasdaq, dos Estados Unidos, que teve alta de 28,64% no ano. O levantamento é de Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria.
Na ponta oposta, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, teve o pior retorno em dólares entre 21 países com mercados financeiros relevantes. O índice brasileiro acumulou uma queda de 29,92% em dólares em 2024. Calculando pela moeda local, o real, a baixa foi de 10,36%.
O Ibovespa também teve o seu pior retorno em dólares desde 2015, momento em que o Brasil vivia uma crise econômica.
Veja o desempenho da bolsa brasileira, em dólares, ao longo dos anos:
Resultados opostos
O resultado positivo do índice argentino, segundo Einar Rivero, tem relação com a melhora da percepção do mercado sobre a economia do país.
2024 foi o primeiro ano do governo do presidente Javier Milei na Argentina. Ele é um economista ultraliberal de direita e promoveu uma série de ajustes no país para aumentar as reservas internacionais de dólares e reduzir os gastos do governo.
A ideia é equilibrar as contas públicas, que vinham de déficits — quando há mais gastos do que ganhos — há mais de uma década e tirar a Argentina da crise inflacionária. No primeiro ano de governo, com as medidas de cortes de gastos e liberalização da economia, o governo conseguiu atingir 11 meses de superávits (quando os gastos são menores que as receitas) e diminui a inflação de uma taxa mensal de 25,5% em janeiro para 2,4% em novembro.
O país ainda tem uma alta taxa de pobreza — 52,9% da população, até o primeiro semestre de 2024, últimos dados disponíveis — e viveu um período de retração da economia no ano passado. Mas o mercado acredita nos ajustes de Milei e espera ver um rebote da atividade econômica em 2025, o que explica o otimismo com as ações de empresas do país.
O g1 foi à Buenos Aires em dezembro e conversou com analistas, trabalhadores, empreendedores, empresários e estudantes que vivem no país, para entender como as mudanças na economia marcaram o primeiro ano de Milei.
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Já o resultado negativo do Ibovespa reflete diversos fatores que afetaram a percepção sobre o mercado brasileiro.
No cenário econômico, a alta forte do dólar e períodos de seca que se refletiram em energia e alimentos mais caros, principalmente, contribuíram para uma nova aceleração da inflação, que ficou pelo terceiro ano consecutivo acima do teto da meta do Banco Central do Brasil (BC).
A meta é de 3% e seria considerada formalmente cumprida se a inflação ficasse em um intervalo de 1,50% a 4,50% no ano. No entanto, até novembro (último dado divulgado até aqui), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulava alta de 4,87% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com a inflação acima do desejado, o BC voltou a elevar a Selic, taxa básica de juros, que chegou a 12,25% ao ano em dezembro e com previsões de novas altas em 2025. Juros maiores aumentam a rentabilidade dos títulos de renda fixa, que são considerados mais seguros que o mercado de ações, o que acaba retirando dinheiro do Ibovespa.
Além disso, principalmente na segunda metade do ano, a visão do cenário fiscal brasileiro pelo mercado se deteriorou, com a percepção de que o governo não será capaz de reduzir seus gastos e cumprir a meta de zerar o déficit público em 2025.
Essa visão também fez sair dinheiro do Brasil, desvalorizando a moeda nacional em detrimento do dólar. A moeda americana encerrou 2024 com uma alta de 27,35% frente ao real, encerrando o ano cotado a R$ 6,1797.
A desvalorização da taxa de câmbio fez o retorno do Ibovespa em dólar ser ainda menor do que o desempenho em moeda local, explica Rivero.
ENTENDA:
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