Rio de Paz voltou à Curva do Calombo, na Lagoa, onde há 1 semana um mural com vítimas foi arrancado pela prefeitura. ONG Rio de Paz faz protesto na Lagoa
Divulgação/Rio de Paz
A ONG Rio de Paz fez neste sábado (4) um protesto na Lagoa Rodrigo de Freitas contra a retirada, pela Prefeitura do Rio de Janeiro, das imagens de 49 crianças vítimas de mortes violentas no RJ.
Desta vez, parentes dos pequenos se reuniram na Curva do Calombo, onde o mural estava, e ergueram as fotos.
Fotos de crianças vítimas da violência são arrancadas de memorial na Lagoa Rodrigo de Freitas
Daniella Dias/ TV Globo
A Prefeitura do Rio retirou, neste domingo (29), as imagens de 49 crianças vítimas de mortes violentas que foram colocadas na Curva do Calombo, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, no último sábado (28). A instalação do memorial foi da ONG Rio de Paz, que também colocou no local uma faixa com dados sobre os crimes.
Ao g1, o poder municipal afirmou que reconhece a importância da homenagem, mas retirou o material por não ter sido consultado pelos organizadores para a montagem.
“Não dá pra cada um ficar fazendo a homenagem permanente que quiser no espaço público, por mais justa que seja”, disse o prefeito Eduardo Paes.
Outro protesto, contra as mortes de policiais militares, segue instalado no local, mas a prefeitura afirmou que avalia retirá-lo.
Imagem registrada no sábado (28) e outra no domingo (29), após fotos serem retiradas de memorial na Lagoa Rodrigo de Freitas
Reprodução/ TV Globo e Daniella Dias/ TV Globo
Confira reportagem sobre o ato na Lagoa Rodrigo de Freitas:
Rio de Paz faz ato na Lagoa contra a morte de crianças por balas perdidas
A ONG Rio de Paz soube da retirada das imagens do protesto por meio de um seguidor, que passou pelo local e comunicou à organização por meio das redes sociais.
Segundo a ONG, 49 crianças perderam a vida baleados no Estado do Rio de Janeiro desde 2020.
O último caso registrado foi o de Diego Vieira Fontes, de 4 anos, morto com os pais na segunda-feira (23), em Paty do Alferes.
Imagem de sábado (28) do ato contra mortes violentas de crianças na Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio
Reprodução/TV Globo
Rio de Paz
Antônio Carlos Costa, da ONG Rio de Paz, afirma que a instalação com os nomes das crianças vítimas da violência e dos policiais assassinados não é nova. Ele diz que existe desde 2015 e conta com o apoio dos moradores da região. Ele destacou que ocorreu a troca das placas com os nomes pelos rostos dos menores, fazendo com que o protesto ganhasse força.
“Eu quero fazer perguntas à Prefeitura do Rio de Janeiro. Como a prefeitura espera que seja interpretado este gesto? Você mantém a homenagem prestada aos policiais mortos e arranca as fotos de crianças que tiveram suas vidas interrompidas por conta de bala perdida? Como uma nota como essa vai bater nas favelas, nas quais encontram-se familiares desses meninos e meninas pobres? Por que não fomos informados? Por qual motivo, quando trocamos os nomes das crianças pelas suas fotos? É claro que a instalação cresceu em impacto”, disse Antônio.
Ele manifestou contrariedade sobre a possibilidade de retirada do protesto pelos policiais mortos e destacou a natureza pacífica do ato.
“Os direitos humanos não têm lado. Estamos aqui para chorar pela morte de crianças pobres e dos nossos policiais. Estamos diante de uma pergunta feita à cultura política da sociedade. O que faz com que uma vida seja valorizada e outra não? Essa interpretação é inevitável. Estamos cheios de perguntas. O que resta à sociedade civil fazer quando se depara com esse morticínio?”, afirmou Antônio Carlos Costa.
O fundador da organização não-governamental disse que não chegou a pedir autorização à prefeitura e que protestos como o realizado na Curva do Calombo fazem parte da cultura da cidade. E que a Rio de Paz toma o cuidado de não atrapalhar a circulação e nem interromper o trânsito ao chamar atenção para as causas que defende. Antônio afirmou ainda que a ONG não foi informada sobre a retirada.