Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram repórter conversando com criminoso, na frente dos policiais acionados para combater o crime. Quartel do Comando Geral da Polícia Militar da Bahia
Natally Aciolly/g1
A Polícia Militar da Bahia (PM-BA) investiga a ação de agentes durante uma situação com refém, ocorrida em Salvador, onde um jornalista se aproximou de um suspeito e negociou a liberação da vítima. A atitude foi reprovada pela Corporação.
O caso aconteceu no dia 10 de janeiro de 2024, no bairro de Tancredo Neves, periferia da capital baiana. O homem manteve a moradora de uma casa sob a mira de uma arma, após trocar tiros com policiais militares da 23ª Companhia Independente (CIPM), na mesma região.
Imagens compartilhadas pelo jornalista Marcelo Castro nas redes sociais mostram ele em uma chamada de vídeo com o criminoso antes mesmo de chegar ao local do crime. Em seguida, ele entra na rua onde fica a casa em questão e começa a conversar com o homem, na porta do imóvel.
“Você vai sair comigo e vai para a viatura”, diz o jornalista em um trecho do vídeo.
Ao ser questionado pelo suspeito, Marcelo Castro chamou o cinegrafista para se aproximar e mostrar o celular onde estava sendo feita uma transmissão ao vivo nas redes sociais, enquanto, mais uma vez negociava com o homem.
“Se você quiser se entregar, você vai segurar o microfone e vai até a viatura agora”, afirmou.
Ao fim, a mulher foi liberada e o suspeito preso, após se entregar. Conforme detalhou a PM, uma arma, duas granadas, munições, drogas e outros materiais foram apreendidos e encaminhados para a Central de Flagrantes, onde o caso foi registrado inicialmente.
Jornalistas Jamerson Oliveira e Marcelo Castro.
Reprodução/Redes sociais
Segundo a PM, que se manifestou em nota, uma apuração inicial mostrou que procedimentos padrões e técnicas de negociação que deveriam ser usados pelos agentes não foram adotados na situação, e por isso foi gerado um processo disciplinar sumário.
💡 A Lei 7990 de 27 de Dezembro de 2001, que rege o Estatuto da Polícia Militar da Bahia, aponta o processo disciplinar sumário como resultado de uma sindicância, instaurada para “apurar irregularidades ocorridas no serviço público, identificando a autoria e materialidade da transgressão”. O documento aponta que o “processo disciplinar sumário destina-se a apuração de falta que, em tese, seja aplicada a pena de advertência e detenção”.
O procedimento correto que os policiais deveriam seguir e a data para a conclusão da investigação não foram detalhados pela PM. Ainda no comunicado, a corporação reforçou o compromisso com a disciplina e o cumprimento dos protocolos operacionais, “assegurando que eventuais descumprimentos das normas serão investigados com transparência, visando preservar a confiança nas ações da instituição”.
O g1 manteve contato com o comando da 23ª CIPM, que afirmou que o posicionamento oficial seria dado pela Corporação. A reportagem também buscou a defesa de Marcelo Castro, mas não teve retorno até a última atualização deste texto.
Leia a nota da PM na íntegra abaixo 👇
“A Polícia Militar da Bahia informa que está apurando a atuação de policiais lotados na 23ª CIPM durante uma ocorrência registrada no dia 10 de dezembro de 2024, no bairro de Tancredo Neves, que envolveu a tomada de refém.
Na ocasião, durante patrulhamento na Rua Valdinei Teixeira, os militares enfrentaram homens armados que reagiram à abordagem e se refugiaram em um imóvel, onde fizeram uma mulher refém. Após negociações, os suspeitos se renderam, sendo apreendidos com eles uma pistola Glock, duas granadas, munições, drogas e outros materiais, que foram encaminhados à Central de Flagrantes, junto aos detidos, para as providências cabíveis.
A investigação preliminar aponta que procedimentos padrões e técnicas específicas de negociação não foram adotados na condução da situação. Assim sendo, foi instaurado um processo Disciplinar Sumário com finalidade de apurar o ocorrido.
A Polícia Militar reforça seu compromisso com a disciplina e o cumprimento dos protocolos operacionais, assegurando que eventuais descumprimentos das normas serão investigados com transparência, visando preservar a confiança nas ações da instituição”.
Investigação em caso de golpe do Pix 💲
Marcelo Castro é réu em caso de golpe do Pix em Salvador
MP-BA
Além de estar envolvido neste caso, Marcelo Castro figura entre os principais investigados de um caso conhecido como “Golpe do Pix” na Bahia. O esquema, que consistia no desvios de doações feitas a pessoas em situação de vulnerabilidade através do telejornal “Balanço Geral”, da TV Record Bahia, está sob sigilo judicial.
Ao todo, 12 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) e se tornaram réus por crimes como associação criminosa, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. O grupo teria se apropriado de R$ 407.143,78, o equivalente a 75% dos R$ 543.089,66 doados pela audiência do programa.
Do total desviado, R$ 146.231,07 teriam ficado com Marcelo Castro e R$ 145.728,85 com Jamerson Oliveira. Os dois são apontados como líderes do esquema.
Em dezembro, um dos operadores do chegou a ser preso, mas teve o mandado revogado pela Justiça, menos de oito horas depois. Além de Carlos Eduardo, a Justiça havia determinado a prisão de Thais Pacheco da Costa, usando como argumento a “periculosidade” dos acusados e a “fuga do distrito da culpa”. Mas a mulher nem chegou a ser detida.
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