Hermeto Pascoal é tema do documentário ‘O menino d’Olho d’Água’, que estreia no canal Curta + em 20 de janeiro
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♫ OPINIÃO SOBRE DOCUMENTÁRIO MUSICAL
Título: Hermeto Pascoal – O menino d’Olho d’Água
Direção: Lírio Ferreira e Carolina Sá
Roteiro: Carolina Sá
Cotação: ★ ★ ★
♪ Pelo fato de Hermeto Pascoal fazer e tocar música com total liberdade, sem amarras ou conceitos pré-definidos, ninguém deve esperar que documentário sobre o multi-instrumentista alagoano siga a receita dos filmes do gênero que encadeiam imagens de arquivo + depoimentos inéditos + entrevista com o artista enfocado se ele estiver vivo.
Documentário que estreia em 20 de janeiro no canal Curta +, após ter seguido o circuito de festivais internacionais desde novembro, O menino d’Olho d’Água (2024) é filme extremamente sensorial que corre sério risco de ser rotulado como “chato” se não ficarem claras as intenções dos diretores Lírio Ferreira e Carolina Sá.
“O som é o marido e a imagem é a esposa dele, sabe?”, sentencia Hermeto em take filmado com um carro em movimento, corroborando a estética do filme roteirizado por Carolina Sá.
Engenhoso, o título O menino d’Olho d’Água pode se referir tanto à cidade em que Hermeto veio ao mundo em 22 de junho de 1936 – Olho d’Água Grande (AL), município incrustado no sertão de Alagoas – quanto ao fato de a música de Hermeto simbolizar uma nascente, brotando de fonte que gera afluentes no curso intuitivo dos sons produzidos por este mago.
Não por acaso, o filme abre com o músico tocando flauta dentro de lago e, em determinado momento, foca Hermeto no palco, tirando sons da água do copo levado à boca do artista durante show.
Se desconhecer a trajetória de Hermeto Pascoal, o espectador continuará sabendo pouco ao fim dos quase 74 minutos do documentário. Em contrapartida, se encarar a experiência sensorial levada ao extremo, talvez esse espectador perceba minimamente a natureza da som deste músico, arranjador e compositor compulsivo.
“Eu componho rápido, sabe”, reitera o músico, lembrando de quando, há cerca de 50 anos, uma música lhe vinha rotineiramente à mente enquanto viajava de ônibus – a caminho da boate em que ia tocar no início da trajetória profissional – e essa música tinha de ser repetida a exaustão para que não fosse esquecida pelo compositor, então sem meios de registrar a criação em gravador.
Como a fonte dessa música vem muito do interior de Alagoas, o filme exibe imagens de boiadas entre sons e paisagens locais. Ao fim do roteiro, solo do pianista Amaro Freitas parece lembrar que o curso da música de Hermeto Pascoal tem alcançado outros grandes músicos como fonte límpida de inspiração para quem faz som pautado pela liberdade, caso do octogenário menino d’Olho d’Água.
Hermeto Pascoal lembra experiências do início da carreira no documentário dirigido por Lírio Ferreira e Carolina Sá
Divulgação / Canal Curta +