Causador de virose no litoral de SP tem rápida mutação; entenda


Instituto Adolfo Lutz, laboratório de referência do Estado, detectou o norovírus em amostras humanas de fezes coletadas na Baixada Santista (SP). As proteínas que compõem o revestimento externo do norovírus agem como uma espécie de armadura
GETTY IMAGES via BBC
O norovírus, detectado em amostras humanas de fezes coletadas na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, é a principal causa de diarreia provocada por vírus no mundo. Ele ganhou espaço e se tornou um desafio devido às frequentes mutações genéticas e recombinações, que possibilitam a infecção de uma pessoa mais de uma vez e dificultam o desenvolvimento de uma vacina.
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A região da Baixada Santista enfrenta um surto de virose com milhares de moradores e turistas infectados. Os casos começaram em dezembro e tiveram um agravante durante as festas de fim de ano. O causador norovírus foi descoberto pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL) na última quarta-feira (8).
A virologista e coordenadora do serviço de referência regional para rotavírus e norovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Fernanda Marcicano Burlandy, explicou ao g1 que os primeiros registros surgiram após um surto de gastroenterite na cidade Norwalk, em Ohio, nos Estados Unidos, em 1968.
Naquela época, de acordo com o médico infectologista e professor universitário Evaldo Stanislau, o norovírus era mais restrito a ambientes de confinamento, como escolas e navios de cruzeiro. O cenário mudou e, segundo o especialista, ele ‘perdeu a competição’ com os outros vírus, estando também presente em locais com aglomeração e água contaminada, como as praias do litoral paulista.
Praia da Enseada, onde a Prefeitura de Guarujá disse ter ocorrido escoamento de esgoto clandestino
Alexsander Ferraz/AT
Ganhou espaço
Durante décadas, o rotavírus foi o responsável por surtos de gastroenterites. No entanto, Fernanda Burlandy explicou que os casos diminuíram após a descoberta da vacina. “Ele foi reduzido e, então, os norovírus passaram a ser encontrados em grande parte dos surtos descritos”, afirmou.
A virologista disse que há estudos de vacinas para o norovírus, mas nenhuma foi licenciada. De acordo com ela, a dificuldade no desenvolvimento da imunização acontece porque o material genético do vírus tem a capacidade para sofrer grandes alterações, ou seja, mutações genéticas.
“Essas mutações, sendo acumuladas ao longo do tempo, podem propiciar que os sintomas se tornem mais severos e também que as pessoas tenham novas infecções por vírus que estão se tornando diferentes”, destacou Fernanda Burlandy .
De acordo com Stanislau, tais mutações e recombinações genéticas podem acontecer dentro da própria pessoa infectada. Ele acrescentou que as mudanças climáticas também facilitam a proliferação do norovírus. “O aumento de chuvas tem uma potencial disseminação mais facilitada […], facilita a transmissão hídrica desse vírus, evidentemente por contato de esgoto”, disse.
Praia de Santos, no litoral de São Paulo, neste sábado (4)
Matheus Muller/g1 Santos
Norovírus
O que é? De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), as noroviroses representam um grupo de doenças de origem viral, conhecidas como gastroenterites.
Quais são os sintomas? Náusea, vômito, diarreia, dor abdominal, podendo ocorrer também dores musculares, cansaço, dor de cabeça e febre baixa, segundo a SES-SP.
A virologista Fernanda afirmou que o norovírus pode levar à morte caso o paciente entre em desidratação profunda. De acordo com ela, pessoas com comorbidades, idosos e bebês precisam de atenção redobrada.
Ao lavar as mãos, é necessário espalhar o sabonete em toda a superfície, incluindo a palma e as unhas
Freepik
Como prevenir? Os meios de prevenção, conforme divulgado pela SES-SP, são:
Lave bem as mãos antes de preparar alimentos e ao se alimentar;
Evite alimentos mal-cozidos;
Mantenha os alimentos bem refrigerados, com atenção especial às temperaturas dos refrigeradores e geladeiras dos supermercados onde os alimentos ficam acondicionados;
Evite tomar banho de mar nas 24 horas seguintes à ocorrência de chuvas;
Leve seus próprios lanches durante passeios ao ar livre, corretamente armazenados;
Observe bem a higiene os estabelecimentos comerciais;
Não consuma gelo, “raspadinhas”, “sacolés”, sucos e água mineral de procedência desconhecida.
Qual é o tratamento? Ainda segundo a secretaria, o principal tratamento é a hidratação. Para casos mais graves, de acordo com a SES-SP, é preciso realizar a hidratação endovenosa. A hospitalização, porém, é considerada “muito rara”.
“Evacuações muito frequentes e líquidas, dificuldade na hidratação com vômitos que não cedem, pele e boca secas, dificuldade em urinar são indicações de que se deve procurar o serviço de saúde”, apontou a SES-SP.
Por fim, a secretaria ressaltou que nenhum medicamento deve ser tomado sem conhecimento e indicação médica.
Qual é a diferença para o rotavírus? De acordo com Stanislau, a principal diferença é que o rotavírus atinge crianças, enquanto o norovírus pode ser diagnosticado em pessoas de qualquer idade.
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