Custo de vida, relações afetivas e visão negativa de futuro: fatores ajudam explicar queda de nascimentos em Campinas


Dados mostram que registros em cartório na metrópole caíram 26,5% desde 2015; pesquisadora da Unicamp avalia que os fatores mais difíceis de reverter são “ligados a valores e confiança no futuro”. Campinas (SP) registra queda ano a ano no número de nascimentos
Rene Asmussen/Pexels
Custo de vida, instabilidade financeira, dificuldade na consolidação de uniões afetivas de longo prazo, visões negativas em relação ao futuro. São múltiplos os fatores que ajudam a explicar a queda, ano após ano, do número de nascimentos em Campinas (SP), no Brasil e em parte do mundo.
Joice Melo Vieira, professora do Departamento de Demografia da Unicamp, acrescenta aos fatores a adoção de estilos de vida que não contempla a reprodução biológica para uma tendência que tem se mantido ao longo dos últimos anos.
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“Existem condições mais ou menos ideiais que fazem as pessoas pensarem e ter filhos e de fato realizar essa vontade como, por exemplo, encontrar o parceiro ou parceira considerado apropriado para ter filhos juntos, estabilidade econômica, fé e esperança no futuro, de que esses filhos terão uma condição de vida igual ou superior àquela dos pais”, explica Joice.
A professora da Unicamp destaca que quando tais expectativas não se cumprem, grande parte das pessoas tende a adiar o projeto reprodutivo ou mesmo desistir dele.
“Enquanto outros nem chegam a considerá-lo, assumindo que outros objetivos de vida serão mais factíveis e vão trazer algum benefício, ou menos problemas”, diz.
Os números
Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), do Ministério da Saúde, mostram que em Campinas houve uma queda de 20,1% no total de nascimentos entre 2015 e 2023.

Já o Portal da Transparência do Registro Civil, administrado pela Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), mostra que o número de registros de nascimentos em cartórios de Campinas em 2024 foi o menor da série histórica desde 2015.
2015: 21.486
2016: 20.284
2017: 20.344
2018: 20.196
2019: 19.583
2020: 17.394
2021: 16.446
2022: 16.655
2023: 16.378
2024: 15.786
O que fazer?
Joice Melo Vieira explica que há uma discussão, principalmente em países desenvolvidos, sobre estímulos à reprodução, que envolvem medidas desde benefícios econômicos para quem tenha filhos a taxação de quem não os tenha, por exemplo.
A professora da Unicamp ressalta que até agora os resultados são “modestos e limitados”, uma vez que são muitos os fatores envolvidos.
Na avaliação da pesquisadora, os mais difíceis de reverter são “aqueles justamente ligados a valores e confiança no futuro”.
“Como tudo que existe no mundo, os filhos também nascem primeiro nos corações e nas mentes. Se o cérebro ou o coração dizem não, as pessoas tendem a não ter filhos atualmente”, completa.
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