Caso ocorreu na região do Gama; gravações mostram Thaysa Gabriela Lobo Silva pressionando equipes para liberar leitos e comparecer a eventos. Segundo Iges-DF, responsável pelas UPAS, exoneração foi pedido do governador Ibaneis Rocha. Gestora da UPA do Gama, no DF, pressiona profissionais para dar alta a pacientes.
A gestora da UPA – Unidade de Pronto Atendimento – do Gama, no Distrito Federal, foi exonerada nesta terça-feira (4) após médicos denunciarem assédio e ameaças. Os médicos contam que sofrem com exaustão e que são pressionados a dar alta para pacientes internados.
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Áudios mostram Thaysa Gabriela Lobo Silva pedindo para as equipes liberarem leitos (ouça acima). A gestora pede “um favor”. Depois, ela questiona: “Será que precisa ficar internado?” E diz ainda que “daqui para amanhã tem que resolver isso”.
🔎O “kanban” citado no áudio é um sistema que auxilia na administração dos leitos, trazendo dados como o tempo de internação dos pacientes e o que é necessário em cada caso.
A equipe também denuncia que sofreu ameaças para comparecer a uma confraternização com a presença do governador (veja detalhes mais abaixo). Segundo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF), responsável pelas UPAS, a exoneração de Thaysa Gabriela Lobo Silva foi um pedido do próprio governador Ibaneis Rocha (MDB).
De acordo com o Portal da Transparência do Iges-DF, Thaýsa Gabriela Lobo Silva foi contratada em 17 de maio de 2022, por livre nomeação, com salário bruto de R$ 22.897,10.
“A nossa própria chefe já falou que quem estiver achando ruim que pode pedir demissão ou que deve tentar sair da UPA. Quando tem visitas que são do Ministério da Saúde, da Secretaria, do Ministério Público, do que quer que seja, nós somos sempre orientados a como nós devemos nos portar e que tipo de assunto não é permitido falar com essas pessoas”, diz o médico.
Assédio e exaustão
Médica de UPA do Gama, no DF, reclama de exaustão no trabalho.
Segundo os médicos, desde 2024 eles são vítimas de assédio da gestora. Eles afirmam que faltam profissionais e que estão sofrendo de exaustão (ouça acima).
“Somos assediados o tempo todo, contados no nosso limite, me sinto exausta”, conta uma médica.
Os médicos também discordam da forma como a gestora quer “esvaziar” a UPA.
Um médico disse: “Paciente não tá aqui aguardando conduta médica como escrevem no kanban. A maioria espera transferência, exames, até cateterismo, vaga de UTI. Eu só dou alta pra paciente em condições de alta.”
Outro profissional responde: “Eu me recusei.”
Terceira pessoa completa: “Dar alta pra morrer na rua ou em casa, só se for. Depois os familiares virem em cima da gente. Ao meu ver não dava pra liberar ninguém.”
A UPA do Gama tem capacidade para fazer 4,5 mil atendimentos por mês. Mas, segundo os profissionais, os atendimentos têm chegado a oito mil por mês.
“Quando nos queixamos de que estamos com problemas, somos orientados a não relatar no grupo de telefone da UPA, porque tem autoridades do Iges no grupo e os gestores até apagam as nossas mensagens quando mandamos. Para sempre parecer que tudo está na mais perfeita ordem”, diz um profissional.
Evento com o governador
Gestora da UPA do Gama, no DF, intima profissionais a comparecerem numa confraternização.
Em um áudio enviado pela gestora da UPA para toda a equipe, ela diz que os profissionais devem comparecer a uma confraternização, e cita o nome do governador Ibaneis Rocha (ouça acima).
De acordo com a nota divulgada pelo Iges-DF, Ibaneis Rocha repudiou as atitudes assediosas e afirmou que nunca autorizou que a gestora falasse em seu nome (veja íntegra no final da reportagem).
O que diz o Iges-DF
UPA do Gama, no Distrito Federal
Davidyson Damasceno/Iges-DF
“O Instituto de Gestão Estratégica do Distrito Federal (IgesDF) informa que após os áudios divulgados pela Rede Globo no final da tarde de ontem, 03 de fevereiro de 2025, o Governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, solicitou a imediata exoneração da profissional envolvida. Além de repudiar atitudes assediosas, Ibaneis afirma nunca ter autorizado que a médica falasse em seu nome. Ciente da gravidade do caso e em concordância com o governador, o IgesDF atendeu prontamente à solicitação e coordenadora não faz mais parte do quadro de colaboradores do Instituto.”
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