Entrevista: Prefeito diz que tragédia causou estragos de R$ 600 milhões e que royalties do petróleo vão ajudar a reconstruir São Sebastião


Maior registro de chuva em 24 horas da história do Brasil deixou 64 mortos na cidade. Entrevista exclusiva com prefeito de São Sebastião
A tragédia que deixou mais de 60 pessoas mortas no Litoral Norte de São Paulo completa seis meses neste sábado (19). Considerado o maior registro de chuva – em um período de 24 horas – na história do país, o caso ainda é motivo de dor e grandes consequências às vítimas.
Durante a madrugada do dia 19 de fevereiro, deslizamentos de terra provocados pelo temporal causaram, além de 64 mortes, uma destruição sem precedentes em São Sebastião, cidade mais atingida da região.
Confira um resumo completo da tragédia
Prefeito de São Sebastião (SP), Felipe Augusto (PSDB)
Divulgação/Felipe Augusto
Enquanto o primeiro mês desde a data foi marcado pela mobilização às buscas por desaparecidos, os cincos meses seguintes têm sido de reconstrução do município e criação de unidades habitacionais para as pessoas que perderam suas casas.
O g1 entrevistou o prefeito Felipe Augusto (PSDB), que estimou estragos na ordem de R$ 600 milhões com a tragédia e que, após longa disputa judicial por mais de R$ 1 bilhão em royalties do petróleo, pretende usar o valor para reconstruir a cidade. Confira, abaixo, os principais trechos:
Agentes da Defesa Civil em ação conjunta com equipes de resgate, entre eles Soldados do Exército, buscam por pessoas possivelmente soterradas no entorno das casas da Vila Sahy, antiga Vila Baiana, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, após graves deslizamentos de terra devido às fortes chuvas dos últimos dias no local. A vila foi o local mais atingido pela catástrofe que já deixou ao menos 44 mortos em toda a região.
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO
Reconstrução
Seis meses depois da tragédia, o principal foco no momento está na reestruturação da cidade, que ficou destruída pela chuva. Casas, estabelecimentos comerciais e até partes de rodovias que dão acesso à região foram levados pelos deslizamentos de terra.
Felipe Augusto afirma que a cidade iniciou os trabalhos em diversas frentes, com ações de drenagem, pavimentação e saneamento, além da reforma de postos de saúde, creches e escolas.
“Nesse momento temos que reorganizar o município do ponto de vista da infraestrutura urbana, priorizando as ações em cima dos efeitos colaterais do choque. Tudo foi duramente atingido.”
“E todas essas ações que estamos focando hoje estão em torno da infraestrutura e da habitação. É óbvio que dentro desse grande arcabouço de investimentos, nós temos que contemplar e avançar as questões de saúde, escolas, creches, para que a gente possa acompanhar o ritmo de crescimento em função das novas habitações populares”, explica.
Vila Sahy, em São Sebastião
André Luis Rosa/TV Vanguarda
Recursos
De acordo com o prefeito, para que tudo possa ser feito, no entanto, é preciso dinheiro, já que o prejuízo da gestão municipal com a tragédia gira em torno de R$ 600 milhões.
Uma verba que ele pretende usar para reconstruir a cidade vem dos royalties de petróleo. A cidade está prestes a receber mais de R$ 1 bilhão dos royalties de petróleo, valor que foi disputado entre as prefeituras de Ilhabela e São Sebastião na Justiça Federal.
Em maio deste ano, o Tribunal Regional Federal de Caraguatatuba deu decisão favorável a São Sebastião. O STF determinou que os valores continuassem sendo depositados em juízo, mas nesta semana a Justiça Federal liberou a verba para a cidade. No entanto, apesar de ser contemplado com o valor, o município ainda não recebeu o dinheiro.
“O tamanho do impacto dessa tragédia sob o orçamento da cidade de São Sebastião é assustador. Para se ter uma ideia, nós temos um orçamento estimado na ordem de R$ 1,1 bilhão. O exequível, orçamento real do município, aquele que entra no cofre que a gente custeia, deve ser de R$ 650 milhões. Ou seja, há uma defasagem do que se prevê e do que de fato se arrecada. Porém, nós temos aí uma ação que está sob um juízo ainda na Justiça Federal, já com ganho de causa, mas que ainda não foram libertados, de valores na ordem de R$ 1 bilhão. Então a gente está aguardando a libertação desses valores para iniciar rapidamente os investimentos.”
Cidades do Litoral Norte disputam há seis anos novo cálculo de royalties
Petrobras/Divulgação
Enquanto não recebe a verba, Felipe Augusto diz que utiliza o recurso em caixa para as ações.
“Aquilo que tem disponibilidade de caixa estamos aplicando. Tivemos financiamento da Caixa Federal, do Banco do Brasil e do Desenvolvimento São Paulo. São recursos que já estão sendo aplicados em licitações para organizar essa parte de infraestrutura. Mas a necessidade por recursos é muito maior e supera o disponível em caixa. Nós temos a temporada de chuvas, que deve acontecer daqui uns seis meses, e nós precisamos rapidamente dar essas respostas. Precisa ter recurso em caixa. O que tem de recurso, nós já estamos investindo.”
Moradias
Enquanto as unidades habitacionais de São Sebastião são construídas pelo governo estadual, os desabrigados estão divididos em um conjunto de Bertioga e em casas de passagem.
“300 famílias foram abrigadas no conjunto de Quaresmeira, de Bertioga. Temos cerca de 200 famílias que optaram pelo recâmbio social, ou seja, a prefeitura paga passagem de volta para sua terra natal. Outras 100 optaram pelo aluguel social, em que a prefeitura arca com o custeio para que essas pessoas possam encontrar suas moradias. Aí estamos falando de famílias que perderam absolutamente tudo”, diz. Além disso, há também ao menos 100 famílias em casas de passagem.
Mais 12 famílias são transferidas para moradias provisórias após tragédia em São Sebastião, SP
Divulgação/Governo de SP
Em relação à construção das unidades habitacionais, Felipe Augusto afirma que as obras estão avançadas e a previsão é que sejam concluídas em outubro.
“O governo está em ritmo acelerado, para entregar as primeiras unidades habitacionais nos bairros de Baleia Verde e Maresias no mês de outubro. As pessoas que foram vítimas dessa tragédia e pessoas que estão em área de risco já estão sendo apoiadas, cadastradas e orientadas para que sejam transferidas a partir de outubro.”
Deslizamento em São Sebastião
Amanda Perobelli/Reuters
Cidade destruída e inúmeras vítimas
A intensidade e quantidade de chuva que caiu sobre São Sebastião foi suficiente para deixar um rastro de destruição sem precedentes na história da região.
O mar de lama provocado pelos deslizamentos de terra atropelou e destruiu inúmeras casas, que ficaram sob o barro. O local mais atingido foi a Vila Sahy, na Barra do Sahy, onde está o maior número das vítimas.
“Foi uma tristeza imensa. O que mais pesou foi ver aí famílias sendo destruídas em função de uma tragédia que nunca teve um paralelo conhecido, nem no Brasil, nem na América Latina. Nosso último pluviômetro parou com 612 milímetros. Um verdadeiro dilúvio. Nós chegamos a uma concentração de chuvas que destruiu bairros inteiros. O Exército Brasileiro definiu muito bem: foram cerca de 35 quilômetros de destruição.”
Buscas por desaparecidos em meio à lama de um deslizamento que derrubou casas na Vila do Sahy, em São Sebastião
Fábio Tito/g1
Há chance de uma nova tragédia?
Questionado se São Sebastião corre risco de sofrer novamente com uma tragédia parecida com essa, Felipe Augusto afirma que, pelo histórico de chuvas intensas na região, qualquer cidade do Litoral Norte tem chance de ser atingido por um temporal devastador durante as temporadas de chuva, que acontecem no fim e no início do ano.
“O Litoral Norte é conhecido como o alto índice pluviométrico nessas temporadas de chuvas. Então, se não acontecer em São Sebastião, seguramente pode acontecer em outros municípios. Então é muito importante que a gente tenha consciência de que esses eventos extremos podem acontecer a qualquer momento”, ressalta.
Máquina trabalha para tirar escombros na Vila Sahy, em São Sebastião (SP)
Giaccomo Voccio/g1
Para evitar que isso aconteça na cidade, ele afirma que a prefeitura tem corrido com as ações de enfrentamento, que tem como objetivo ficarem prontas até o fim deste ano.
“Existe um ritmo acelerado de trabalho para colocar o máximo de ações de contenção, como drenagem, recuperação de guias e reestabelecimento da normalidade da cidade antes da próxima temporada de chuvas.”
“Estamos avançando rapidamente para chegar nessas temporadas de chuvas nas melhores condições possíveis. Temos que dar destaque para a conscientização de todos. Se ficar em áreas de risco, o próprio nome já diz: corre risco.”
Veja mais notícias do Vale do Paraíba e região

Adicionar aos favoritos o Link permanente.