‘Em todo instante penso nela’, diz mãe de adolescente assassinada e enterrada pelo próprio pai em Jacareí


Um ano após o crime, mãe relatou necessitar de medicamentos controlados e sessões de terapia para superar a perda da filha. Geovana e a mãe, Ana Lúcia
Arquivo pessoal
Um homicídio mudou toda a história da família Martins em 2022. Geovana, filha mais nova, foi assassinada e enterrada em um dos cômodos dentro da própria casa, no Parque Meia Lua, em Jacareí (SP). O crime aconteceu em maio e o corpo foi encontrado em junho. O pai da adolescente, Sidnei Martins dos Santos, confessou o crime.
Inicialmente dada como desaparecida, Geovana foi encontrada três semanas depois, no dia 10 de junho, pela Polícia Civil. Para a Delegacia de Investigações Gerais, o pai disse que cometou o assassinato sob o efeito de drogas.
Sidnei foi preso, assim como o irmão de Geovana, Gabriel, que, posteriormente, foi absolvido após ter tido como suspeito de envolvimento no caso. A família, porém, se desfazia naquele momento.
Para a mãe de Geovana, Ana Lúcia Costa, que alimentou durante três semanas a esperança de encontrar a filha ainda com vida, o mundo desabou. Após um ano, ela decidiu falar e contar ao g1 como está sendo a sua rotina desde então.
“Para mim, não mudou muita coisa. Tudo parece que foi ontem. Eu choro, tenho minhas recaídas. Passo o dia chorando e começo a me isolar”, desabafou.
Mãe e filha eram unidas antes de assassinato
Arquivo pessoal
Além de perder a filha e o companheiro, Ana Lúcia também deixou de trabalhar. “Eu fiz um acordo com a ‘firma’ e eles falaram que pagariam metade do meu salário para ficar em casa, mas não está chegando a metade”, contou ela, que estava trabalhando com registro na carteira de trabalho cinco meses antes de tudo desmoronar.
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Se antes a rotina era de trabalho e momentos de lazer em família, hoje o dia-a-dia dela se resume em sessões de terapias e medicamentos. “Eu estou mais tempo dentro de casa e antes não era assim. Hoje eu tomo medicação controlada e faço terapia”, disse.
Ficar dentro de casa – a mesma onde tudo aconteceu –, porém, não é uma tarefa fácil para Ana, já que tudo ainda lembra a filha caçula.
“Agora a minha rotina é essa: ficar dentro de casa, limpar a casa, fazer comida, dar uma volta para não enlouquecer, porque tem horas que eu enlouqueço. Não consigo ir muito lá no fundo [da casa]. Em todo instante eu penso na minha filha. Eu tenho que tomar medicação para dormir, porque eu não consigo dormir mais”.
Há menos de um mês, no segundo domingo de maio, foi celebrado o Dia das Mães. Para Ana, a data foi o pior dia de sua vida, devido às lembranças de Geovana.
“Lembranças são todos os dias. Eu vou fazer um arroz, um feijão, fico lembrando, porque ela gostava. O Dia das Mães foi o pior dia para mim, porque eu passei reclusa dentro de casa. O meu filho estava aqui, tentando me alegrar, e eu não consegui”, contou.
Geovana da Costa Martins dos Santos foi mota pelo pai em Jacareí.
Reprodução/ TV Vanguarda
Para amenizar a dor e o sofrimento, ela teve o apoio de amigos e da psicóloga. Aos finais de semana, Ana busca passar um tempo com as amigas, tentando esquecer – ainda que por um momento – toda essa tragédia.
A dificuldade em apagar da memória os 13 anos que conviveu com Geovana é grande. Na casa, ainda há os pertences da adolescente – os quais a mãe faz questão de guardar.
“A saudade é demais. Até hoje eu não doei as roupas dela, estão todas no guarda-roupa. Também não consigo mexer, porque toda vez que eu lavo, eu deito em cima das roupas, eu choro. Para evitar isso, eu não abro mais”.
Agora, um ano depois, o único desejo de Ana Lúcia é que a Justiça seja rigorosa com Sidnei – e que ele cumpra tudo o que for sentenciado.
“Para mim, ele não deveria estar preso. Deveria existir uma pena de morte. Essa é a decisão que eu queria da Justiça: pena de morte. Mas, como não existe isso aqui no Brasil, então eu espero que ele receba a pena máxima e cumpra tudo isso preso”, desabafou.
Geovana da Costa Martins dos Santos foi morta pelo próprio pai em Jacareí.
Reprodução/ TV Vanguarda
Relembre o caso
Geovana da Costa Martins dos Santos, de 13 anos, estava desaparecida desde o dia 20 de maio de 2022. A polícia investigava o caso e familiares e amigos se mobilizaram nas buscas pela jovem.
A família chegou a dar entrevista à TV Vanguarda sobre o caso. Na reportagem, o pai conta que estava com ela em casa, quando a adolescente saiu e não foi mais vista.
Multidão se reuniu em frente da casa em que o corpo de Geovana foi encontrado
Arquivo pessoal
Durante as investigações, a polícia descartou duas hipóteses: a de que ela poderia estar perdida em uma área de mata, já que participava de um grupo de escoteiros; e a de que ela poderia ter se envolvido com algo ilícito antes do sumiço.
Ao fazer buscas no bairro, a polícia encontrou partes de concreto e piso em um terreno baldio e ao entrarem na casa da vítima perceberam que eram similares. Após a descoberta, fizeram a busca e encontraram o corpo da jovem em um saco enterrado no quarto do irmão.
Restos de material de construção, similares ao chão do quarto que foram encontrados em uma área próxima da casa, levaram a polícia a fazer uma investigação no imóvel em que corpo de adolescente foi encontrado enterrado em Jacareí, SP
Divulgação/ Polícia Civil
Após o encontro do cadáver, o pai de Geovana chegou a confessar o crime aos policiais. Ele disse ter usado cocaína e, durante uma discussão com a filha, a estrangulou. Após o ato, enterrou a adolescente.
Além dele, o filho também acabou sendo preso. A polícia pediu a prisão dele para investigar seu envolvimento. O jovem de 20 anos alegou que chegou em casa no dia em que a família havia relatado o sumiço e o pai fazia uma obra em seu quarto.
Corpo de Geovana foi sepultado em cemitério em Jacareí
Lucas Rangel/TV Vanguarda
No dia 11 de junho, o pai passou por audiência de custódia e sua prisão foi convertida em preventiva.
Já no dia 15 de julho, o Ministério Público o denunciou pela morte da adolescente e pediu o arquivamento da acusação contra irmão.
Em dezembro, a Justiça decidiu que Sidnei Martins vai ser levado a júri popular para o julgamento do caso. Ainda não há data para o julgamento.
Geovana Martins foi morto e enterrada dentro da própria casa em Jacareí.
Reprodução
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