‘Uma sobrevivente’, diz médico que tratou jovem que teve 80% do corpo queimado em explosão de prédio em Campos do Jordão, SP


Renata Fontoura, de 24 anos, foi a vítima resgatada em estado de saúde mais delicada da explosão, que aconteceu em abril. Ela recebeu alta nesta semana, cinco meses após o caso. ‘Uma sobrevivente’, diz médico que tratou jovem que teve 80% do corpo queimado em explosão de prédio em Campos do Jordão, SP.
Arquivo pessoal/g1
A médica Renata Fontoura, de 24 anos, recebeu alta durante a semana após passar os últimos cinco meses internada recebendo tratamento para se recuperar da explosão de um prédio em Campos do Jordão (SP), em abril deste ano. Ela estava no apartamento onde a explosão aconteceu e teve quase todo o corpo queimado no acidente.
▶️Renata é uma das quatro vítimas da explosão no condomínio Saint Ettiene. A tragédia, que destruiu 10 apartamentos, aconteceu no dia 22 de abril, quando a cidade recebia milhares de turistas no feriado de Tiradentes.
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Laurene Santos/TV Vanguarda
De acordo com o médico responsável pelo tratamento, a jovem é uma sobrevivente. Cirurgião plástico, o Dr. Luiz Philipe Molina Vana é especializado em queimaduras e trabalha no Hospital Nove de Julho, onde Renata ficou 144 dias internada, na capital paulista.
“Estatisticamente, ela foi uma paciente que tinha mais probabilidade de morrer do que sobreviver. Por várias vezes, ela passou por momentos muito difíceis, com alto risco de morrer”, diz o especialista.
Confira abaixo como foi o tratamento e quais são os próximos passos da recuperação da médica, vítima mais grave da explosão de Campos do Jordão:
Médico fala sobre a gravidade dos ferimentos sofridos por Renata
Queimaduras
Apesar de inicialmente ter sido divulgado que a médica Renata Fontoura teve 70% do corpo queimado, as avaliações iniciais do Hospital Nove de Julho, onde ela ficou internada, apontaram que, na verdade, as queimaduras chegaram a atingir 80% do corpo da jovem.
“Foram atingidos a face, pescoço, os dois braços, as duas mãos, parte do tórax, a região das mamas, a região das duas pernas e as costas. Apenas parte da região abdominal e parte da região das coxas não tiveram queimaduras”, afirma o Dr. Luiz Philipe Molina Vana.
Algumas lesões chegaram a ser consideradas profundas (também conhecidas como de queimaduras de terceiro grau).
Médico explica como funciona o tratamento para queimaduras
Tratamento
Nas regiões mais atingidas do corpo, onde as lesões foram profundas, o tratamento é realizado por meio de enxerto. Segundo o médico, uma camada fina da pele nas áreas sem lesão é removida e transferida para os locais mais machucados.
Após um período entre sete e dez dias, o local que recebeu o enxerto é curado e restaurado. Como a jovem teve 80% do corpo queimado e poucas partes sem queimaduras, o processo foi bem lento.
“Como ela tinha poucas áreas doadoras desse enxerto de pele, cada vez que a gente tirava enxerto, tinha que aguardar um período para poder reutilizar essa área e tirar um novo enxerto. Então fomos tratando regiões, uma de cada vez, até conseguir cobrir todas as regiões do corpo”, explica.
“É um processo lento. Vamos fazendo área por área, até conseguir ter uma cobertura de todas as áreas. Em meio a isso, começamos o processo de reabilitação para que ela tivesse alta o menos dependente e o mais funcional possível.”
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Arquivo Pessoal
Sequelas e próximos passos
Renata não teve nenhuma sequela funcional – o que é mais importante -, apenas sequelas estéticas, que já começaram a ser tratadas. “Nós conseguimos fazer o tratamento inteiro, sem que ela tenha sequelas funcionais. Apesar disso, ficam sequelas estéticas, em relação a aparência”, afirma Molina.
O tratamento das sequelas estéticas envolve vários recursos. No caso da médica, será usada uma malha compressiva, que funciona como uma roupa elástica que vai apertar e comprimir a região em que se formaram cicatrizes, melhorando a aparência delas. Ao mesmo tempo, serão utilizadas massagens e cremes hidratantes.
Renata teve sequelas estéticas, mas sem perdas motoras, conta médico
Além disso, um recurso mais sofisticado é um tratamento com laser que melhora a qualidade da pele e das cicatrizes, tanto do ponto de vista de aparência quanto do ponto de vista da elasticidade e flexibilidade.
“Uma vez que a gente tem a cicatriz, ela é para sempre. Mas, progressivamente, vai ficando menos aparente. Ao longo dos anos, eu não tenho dúvidas de que vai melhorar demais, a ponto de serem sequelas mínimas, como pequenas alterações de coloração, leves mudanças de textura. Ela vai poder ter uma vida completamente normal”, comemora.
Questionado a respeito de uma previsão média em que isso costuma acontecer, o médico afirma que depende de cada paciente. No caso de Renata, ela poderá dar sequência à vida acadêmica já a partir do começo do próximo ano.
“Ela é médica e está fazendo uma especialização. Conversei sobre isso e disse que acredito que, no começo do ano, ela possa retomar a vida acadêmica.”
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Rede de apoio
Justamente por conta das sequelas estéticas, casos de queimaduras costumam afetar também a questão mental dos pacientes, principalmente relacionado à autoestima.
Para que isso não aconteça ou seja minimizado, o especialista em queimaduras defende uma rede de apoio em volta das vítimas e lembra que elas, acima de tudo, devem ser admiradas por terem sobrevivido aos casos, que são sempre muito complicados.
“A rede de apoio é absolutamente fundamental. A rede de pessoas que a apoiem e a respeitem é muito importante. O paciente queimado é um vencedor, um sobrevivente e é alguém que venceu uma guerra gigante. Acima de qualquer coisa, ele é alguém para ser admirado, porque é um tratamento muito difícil, que envolve muita dor e deixas muitas marcas, físicas e mentais.”
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“Esse apoio é absolutamente fundamental. O apoio profissional, familiar, dos amigos. Acho que essa parte agora é vital para o sucesso dela, para compreensão de tudo o que aconteceu e para que ela retorne à vida que lhe pertence”, completa.
De acordo com o médico, essa rede de apoio envolve psicólogos, nutrólogos e diversos outros profissionais, além das relações próximas dos pacientes, como os amigos e parentes.
Dr. Luiz Philipe Molina Vana
Divulgação
Alta
A médica Renata Fontoura, de 24 anos, que teve 80% do corpo queimado na explosão de um prédio em Campos do Jordão (SP), recebeu alta nesta semana, após passar quase cinco meses internada em um hospital de São Paulo (SP).
O caso de Renata foi o mais grave entre as quatro pessoas feridas. Enquanto os outros três feridos receberam alta em menos de uma semana, a jovem ficou 144 dias internada no Hospital Nove de Julho, na cidade de São Paulo, sendo a maior parte do tempo na UTI.
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Arquivo Pessoal
Renata Fontoura é de Novo Mundo (MT), que fica a 757 km de Cuiabá. Recém-formada em medicina na Universidade Federal de Mato Grosso, a jovem estava em Campos do Jordão com o namorado para passar o feriado de Tiradentes.
O casal alugou um apartamento no condomínio que explodiu. No momento do acidente, os dois estavam no andar térreo, em uma sala.
Condomínio destruído após explosão em Campos do Jordão, SP
Douglass Fagundes
Segundo Veronilda, mãe de Renata, uma laje caiu sobre a jovem, mas ela ficou isolada por um bolsão de ar e conseguiu gritar para o namorado ajudá-la. O rapaz sofreu apenas uma queimadura no braço, sem gravidade.
Com lesões graves e cerca de 80% do corpo queimado, segundo o Samu, Renata foi socorrida e precisou ser transferida para o hospital em São Paulo.
As outras três vítimas são duas adolescentes de 14 anos e uma mulher de 52. Elas foram socorridas e já foram liberadas do hospital na mesma semana.
Condomínio destruído após explosão em Campos do Jordão, SP
Douglass Fagundes
O que aconteceu?
A explosão aconteceu por volta das 20h do dia 22 de abril, no condomínio Saint Ettiene, que fica na Rua dos Manacás, no Morro do Elefante. 10 dos 32 apartamentos do imóvel ficaram destruídos e quatro pessoas ficaram feridas.
Turistas relataram ao g1 que os vidros de imóveis próximos tremeram e houve um forte barulho. Carros ficaram sob escombros e destroços foram lançados à distância.
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