Caso Marco Aurélio: um mês após escavações nos Marins, peritos se concentram em análises de vestígios coletados


Polícia Civil ainda aguarda resultado de análise dos materiais encontrados durante escavações. Investigação trabalha com duas possibilidades e não descarta a chance do escoteiro estar vivo. Escoteiro Marco Aurélio Simon desapareceu aos 15 anos em 1985 no Pico dos Marins em Piquete (SP)
Arquivo pessoal
Há exato um mês, a Polícia Civil retomou as escavações para tentar encontrar Marco Aurélio Simon – escoteiro que desapareceu em junho de 1985 no Pico dos Marins, em Piquete, no interior de São Paulo.
Do dia 18 ao dia 22 de setembro, cerca de 30 pessoas entre policiais civis, peritos, médicos legistas, policiais militares e ambientais, bombeiros e servidores da prefeitura de Piquete estiveram empenhados com o objetivo de tentar encontrar algum vestígio do escoteiro desaparecido.
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Do lado da Polícia Civil, quem comandou os trabalhos foi o delegado Marcelo Cavalcante, que, em entrevista ao g1, detalhou como foi realizada a primeira etapa da operação.
“A região ali é muito grande. A gente precisava, para tentar analisar, olhar esse viés, ter algum ponto para buscas. Foi aí que surgiu o Instituto de Criminalística, através de uma proposta, com a utilização de uma inteligência artificial, com drone, para buscar pontos que possam caracterizar covas com ossos”, explicou.
Primeira etapa de escavação no Pico dos Marins foi encerrada sem localizar osssos.
Lucas Tavares/g1
Segundo ele, foram identificados cinco pontos de possíveis covas com ossos. A proposta do Instituto de Criminalística era de fazer as buscas nos pontos e, nessas buscas, utilizar a antropologia, tentando localizar ossos para identificação por DNA.
“Não localizamos osso, mas muito material foi recolhido. Muitos especialistas entendem que pode ser que não haja mais osso. Muito material foi apreendido e levado à perícia. A cada profundidade, colhia-se mais material”, revelou Cavalcante.
Caso Marco Aurélio: buscas e escavações no Pico dos Marins.
Rauston Naves/g1
Ponto 1
Nos cinco dias de trabalho, as equipes trabalharam em um dos pontos identificados pela inteligência artificial, chamado de ‘Ponto 1’. No entanto, por ser uma área muito grande, considerando ainda as margens de erro, o trabalho tornou-se complexo.
“A gente se deparou com uma dificuldade. É um trabalho muito profundo, muito pesado, muito lento, com grande dificuldade de execução. Já no primeiro dia descartamos a possibilidade de analisar os cinco pontos. São muitos profissionais de qualificação destacados para essa atividade”, contou.
Buscas no Pico dos Marins foram encerradas com diversos materiais coletados para análise.
Rauston Naves/g1
Após o recolhimento dos materiais, que estão em análise, agora a Polícia Civil aguarda o retorno dos resultados para tomar decisões e verificar quais caminhos devem ser seguidos.
“Concluímos que a gente precisava parar os trabalhos para avaliar o que foi produzido e, pelo fato de não ter sido encontrado nenhum osso, optamos por novas avaliações da tecnologia, da inteligência artificial, fazer novos testes para efetuar novas buscas e verificação se os pontos serão ou não mantidos”, alegou o delegado.
Primeira etapa de escavação no Pico dos Marins foi encerrada em setembro de 2023
Lucas Tavares/g1
A expectativa, apesar de não ter sido encontrado nenhum osso, é que o desfecho seja positivo. Apesar da pausa nas escavações, o delegado explicou que os trabalhos não estão parados.
“Há uma perfeita sintonia entre a Polícia Civil, o Instituto de Criminalística e o Instituto Médico Legal nas avaliações de todas essas informações. Só vamos retomar com mais informações. Precisamos de mais informações para retomar. Não significa que está parado, que acabou, significa que a gente está em reavaliação”, disse.
Máquina que parece um cortador de grama reforçou buscas.
Reprodução/TV Vanguarda
Ainda no Ponto 1, onde se concentraram as escavações, a polícia esclareceu que a área deve ser reflorestada, após compromisso firmado com a prefeitura de Piquete.
“Durante o trabalho, a gente se preocupou com a questão ambiental. Houve uma escavação, uma perfuração no Ponto 1, mas temos uma proposta para reflorestar o local, reestabelecer o meio-ambiente naquele ponto. A Polícia Civil se comprometeu com a prefeitura para fazer esse trabalho”, revelou.
Escoteiro Marco Aurélio Simon desapareceu aos 15 anos em 1985 no Pico dos Marins em Piquete (SP)
Arquivo pessoal
Linhas de investigação
Enquanto o resultado da análise dos materiais recolhidos no Pico dos Marins em setembro não sai, uma coisa é certa pela Polícia Civil: não está descartada nenhuma linha de investigação – a de que Marco Aurélio esteja vivo ou morto no Pico.
“Tem também a linha dele [Marco Aurélio] estar vivo. Estou planejando pedir para o Instituto de Criminalística um novo trabalho pericial com a foto do Marco Aurélio para tentar trazer uma expectativa de como ele estaria: mais magro, mais gordo, careca, com barba, e divulgar para que as pessoas ajudem nessa outra linha, que a gente não descarta”, explicou.
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Arquivo Pessoal
Segundo o delegado, enquanto não houver nada concreto, a polícia não descarta nenhuma possibilidade.
“Nunca podemos fechar uma linha de investigação se não tivermos certeza. Quando não tem uma linha objetiva, todas as linhas precisam ter o mesmo tratamento”, declarou.
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Reprodução
Apesar da investigação, Marcelo explica que as buscas são única e exclusivamente para encontrar Marco Aurélio Simon, já que, devido ao tempo – quase quatro décadas –, todos os crimes prescreveram e não existe possibilidade de alguém ser responsabilizado.
“Temos um inquérito policial reaberto para tentar localizar Marco Aurélio. Essa é a premissa principal. Não existe nenhuma repercussão criminal. Não existe possibilidade de responsabilizar criminalmente alguém. Todos os crimes estão prescritos”, contou.
Reportagem da época lembrava desaparecimento de Marco Aurélio no Pico dos Marins
Reprodução/ TV Vanguarda
Desaparecimento
Marco Aurélio Simon desapareceu na manhã do dia 8 de junho de 1985. Ele e outros três amigos, todos com 15 anos à época, acompanhados de um adulto líder dos escoteiros, faziam uma trilha ao cume do Pico dos Marins, o mais alto do estado de São Paulo, que fica na cidade de Piquete.
À época, polícia, bombeiros e equipes de inteligência fizeram buscas por 28 dias na área. Um inquérito foi aberto na Polícia Civil para investigar seu desaparecimento, mas terminou arquivado e sem resposta. Mais de 30 anos depois, com um novo depoimento, a polícia decidiu pela reabertura e investigação do caso.
Escoteiro Marco Aurélio Simon desapareceu aos 15 anos em 1985 no Pico dos Marins em Piquete (SP)
Arquivo pessoal
O caso foi desarquivado em 2021, após novos indícios abrirem duas linhas de investigação da polícia. A primeira delas é a de que ele pode ter sido morto e enterrado em uma área próxima ao acampamento.
Em novembro do ano passado e em julho de 2021, escavações chegaram a serem feitas pela Polícia Civil em uma casa e terrenos na área rural de Piquete (SP), mas nos dois casos a ação terminou sem o encontro de novas evidências sobre o caso Marco Aurélio.
Busca termina com dezenas de amostras coletadas para análise.
Rauston Naves/g1/Arquivo pessoal
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