Como a eleição de Javier Milei na Argentina pode afetar a economia do Vale do Paraíba


Em 2023, a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Vale do Paraíba, ficando atrás apenas e Estados Unidos e China. Milei após vitória na Argentina
Agustin Marcarian/Reuters
Eleito presidente da Argentina neste domingo (19), Javier Milei defendeu durante sua campanha um discurso contra o Mercosul. Com o cenário de incertezas em relação à parcerias comerciais, o Vale do Paraíba pode ter a economia afetada com a nova política exterior da Argentina.
Entenda nessa reportagem como são as relações comerciais das cidades do Vale com a Argentina, o que é exportado para o país vizinho, além de perspectivas e análises sobre o futuro dos negócios com o argentinos.
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Parceria em números
Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em 2023, a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Vale do Paraíba. Ou seja, é o terceiro país que mais compra das cidades da região, ficando atrás apenas de Estados Unidos e China.
Somente neste ano, entre os meses de janeiro e outubro, a Argentina gastou US$ 815 milhões para adquirir itens produzidos nas cidades do Vale do Paraíba.
De janeiro a outubro deste ano, as exportações brasileiras para a Argentina somaram US$ 14,9 bilhões. Isso corresponde a 5,3% do valor total exportado pelo Brasil no período.
Em 2023, a Argentina é a quarta maior parceira comercial de São José dos Campos
Reprodução/TV Vanguarda
Entre janeiro e outubro deste ano, São José dos Campos exportou para o país vizinho US$ 88,9 milhões. A Argentina é o quarto maior parceiro comercial do ano para São José dos Campos, ficando atrás somente dos Estados Unidos, Canadá e Holanda.
Já em Taubaté, somente em 2023 foram US$ 142 milhões em mercadorias exportadas para a Argentina. A quantia representa 45% de toda a exportação do ano na cidade.
Cerca de 45% das exportações feitas por Taubaté, é para a Argentina
Reprodução/TV Vanguarda
Nos últimos 10 anos, a Argentina variou entre o posto de segundo e quinto maior parceiro comercial do Vale do Paraíba, movimentando mais de US$ 8,9 bilhões na região.
Parceria ameaçada?
Com a eleição de Milei, a tradicional parceria comercial entre Brasil e Argentina pode estar ameaçada. Milei, ao longo da campanha, já ameaçou retirar a Argentina do Mercosul e também se diz contra a adesão de seu país ao Brics – bloco que inclui hoje Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
No plano de governo, Milei também afirma que pretende eliminar os impostos para exportação e adotar políticas para que os argentinos comprem produtos de qualquer país do mundo de maneira livre.
Apesar das afirmações do presidente eleito, ele terá que contornar alguns problemas para impor suas vontades no governo argentino.
“Qualquer coisa estabelecida de imediato, eu acho que seria muito difícil de ser aprovada pelo congresso argentino. O Milei terá apenas 11% do senado e 14% da Câmara. Quando olhamos para esse quadro, sabemos que ele [Milei] terá que fazer aproximações”, avalia Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM.
Carla Beni, professora de de economia internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também acredita que Milei terá que resolver as questões com o legislativo antes de aplicar uma nova politica internacional.
“Espero que não tenha nenhum corte radical. Toda decisão de política econômica, ela tem uma combinação entre o executivo e o legislativo. Espera-se que dentro do legislativo haja uma estrutura de compensação. Até porque ele [Milei] não tem apoio político”, explica a professora.
Um dos produtos mais exportados pela região para a Argentina são os veículos e peças automotivas
Volkswagen/Divulgação
O prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD), também não acredita que a economia da cidade deva ser impactada pela política de Milei.
“A Argentina está passando por uma crise profunda e não tem o porquê fechar as portas. Muito pelo contrário. Na parte comercial, quando estamos em crise, devemos abrir as portas e ter as relações comerciais e exteriores é importante”, especula o prefeito.
O que o Vale exporta para a Argentina
Os principais produtos vendidos do Vale do Paraíba para a Argentina são:
Ferro e aço
Alumínio
Partes e acessórios de carros
Agrotóxicos
Veículos automóveis de passageiros
Um dos principais itens exportados da região para a Argentina são as peças de carros e os automóveis. O setor passar por um momento turbulento na região e uma ruptura com o comércio argentino poderia trazer mais problemas.
Apesar disso, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos entende que não há riscos a curto prazo.
“O que dita as regras da economia são as grandes empresas. É um cenário que está incerto e, diante dessa situação, nós não achamos que ele [Milei] vai romper as relações com o Brasil e com a China”, afirma Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos .
A GM e Volkswagen, montadoras de carros da região, foram procuradas pelo g1. A GM não quis se posicionar e a Volskwagen não retornou o contato da reportagem.
“Acho que precisamos ter um pouco mais de calma para analisar esse processo e observar que uma coisa são as palavras e outra coisa são os fatos”, finaliza o professor Leonardo Trevisan.
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