Juliana Rangel passou por uma cirurgia para retirada do projétil; os três policiais rodoviários federais envolvidos no crime foram afastados. Jovem baleada pela PRF na véspera de Natal, no Rio, está em estado gravíssimo
Reprodução/TV Globo
A véspera de Natal de uma família se transformou em pesadelo depois que policiais rodoviários federais atitaram no carro em que estavam, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Eles estavam a caminho da ceia. “Aí vinha uma viatura lá embaixo, eu liguei a seta pra dar passagem, mas eles, em vez de passar, vieram atirando no carro, sem fazer abordagem, sem nada”, relatou Alexandre Rangel, pai da estudante de enfermagem Juliana Leite Rangel, atingida na cabeça durante uma abordagem na Rodovia Washington Luís (BR-040).
“De repente, a gente sentiu umas coisas batendo na gente como se fosse vidro, aí meu marido até falou assim: ‘eu acho que isso é tiro’. Foi muito tiro, gente, foi muito tiro, foi muito mesmo”, contou a mãe da vítima, a dona de casa Dayse Luci Leite Rangel.
“Quando eu vi que era tiro, o vidro da frente quebrou e ‘coisou’ o meu dedo, aí falei pra minha filha abaixar. Eu abaixei, o meu filho deitou no fundo do carro, mas infelizmente, o tiro pegou na minha filha, 26 anos”, disse Alexandre.
Juliana Rangel passou por uma cirurgia para retirada do projétil e está em estado gravíssimo. Os três policiais rodoviários federais envolvidos no crime foram afastados. Em depoimento, reconheceram que atiraram contra o carro. Disseram que ouviram disparos e deduziram que os tiros vinham do carro da família, na altura de Duque de Caxias e Baixada Fluminense.
“Eu ainda desci do carro, podendo ter levado até outro tiro. Desci do carro mandando eles pararem de atirar, que era uma família. Eles pegaram e falaram que nós atiramos neles. Como assim, se a gente estava indo para a ceia, o carro completamente cheio de comida? Como é que a gente ia estar atirando neles? Nunca!”, argumentou Dayse.
Desde 2023, foi a terceira vez nessa mesma região que famílias foram vítimas da violência, não de bandidos, mas de policiais rodoviários federais que chegaram atirando.
Em situação parecida, na mesma rodovia, Anne Caroline do Nascimento morreu em junho do ano passado. Os policiais atiraram oito vezes no carro em que ela viajava com o marido.
Três meses depois, a PRF cometeu o mesmo erro e a vítima foi uma menina de três anos. O carro onde Heloísa estava com os pais levou três tiros de fuzil, antes mesmo de ser abordado.
A Polícia Federal está investigando o caso desta terça (24). O superintendente da PRF no Rio de Janeiro, Vitor Almada, disse ao jornalista Cesar Tralli que a abordagem foi totalmente equivocada e fora dos padrões de treinamento, e que nada justifica o que aconteceu.
Na terça (24), o Governo Federal publicou um decreto para disciplinar a atuação das polícias no Brasil. A norma reforça que a arma de fogo só deve ser usada pelos policiais como último recurso, e nunca contra pessoas desarmadas. Os policiais descumpriram o decreto no mesmo dia em que foi publicado.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandoswki, disse que esse caso no Rio reforça a importância e necessidade do decreto e que o exemplo tem que vir das polícias federais.
A noite de Natal da família de Juliana Rangel foi no hospital. “Eles não deram ordem de parada, não quiseram saber quem estava dentro do carro. Indignação total”, desabafou o tio da vítima, o empresário Washington Barreto Leite.
“Na hora, pensei que o carro da Polícia Rodoviária Federal fosse bandido. Pensei que era bandido com o carro da polícia atirando em mim, porque um policial não iria fazer isso”, completou o pai de Juliana.
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